O secretário-geral do PCP afirmou terça-feira que a realização de uma política de esquerda exige a renegociação da dívida e acusou o PS de acenar com diálogos à esquerda, antes das eleições, para depois governar à direita.

“Alguém acredita que é possível realizar uma política de esquerda sem assumir claramente a renegociação da dívida e assegurar os meios para relançar o desenvolvimento do país”, questionou o líder comunista.

Jerónimo de Sousa, que falava perante centenas de apoiantes numa coletividade da Baixa da Banheira, concelho da Moita, distrito de Setúbal, deixou claro que há questões fundamentais, como a renegociação da dívida, para a participação dos comunistas numa solução para um Governo de esquerda, ao mesmo tempo que refutava as críticas, ao PCP e ao Bloco de Esquerda, no congresso do PS.

O recém-eleito secretário-geral dp PS, António Costa, afirmou no congresso socialista que o BE e o PCP não poderiam contar com o PS para os ajudar a manterem-se na “posição cómoda de ficarem só pelo protesto e não virem também trabalhar para a solução”, dando clara preferência a um entendimento futuro com os partidos de esquerda, mas a promessa não convenceu o líder comunista.

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Para Jerónimo de Sousa, o congresso do PS foi “sobretudo uma grande operação de propaganda com muita retórica de esquerda, mas nenhuma política concreta que sustente tal opção”, que disse ser “o mesmo vazio que vimos na agenda para a década”

“Acenam com diálogos à esquerda, ao mesmo tempo que fazem uma caricatura ofensiva dos que, firmemente, como o PCP, nunca dela saíram [da esquerda]. Se alguém saiu da esquerda não foi o PCP, foi o PS, ao longo de muitas décadas”, declarou, vincando: “Viragem à esquerda em palavras antes das eleições, governar com a direita depois das eleições – tem sido este o lema sempre e sempre prosseguido pelo PS nas últimas quatro décadas”.

O líder comunista criticou também o PS por nada dizer sobre a forma como pretende resolver o problema do euro forte, que diz estar a destruir cada vez mais a economia do país e as condições de vida dos portugueses.

“Perante tanta omissão do PS e de António Costa, tantos silêncios, indefinições e adiamentos nas tomadas de posição concretas sobre os problemas do país, esperamos que não se confirme o ditado popular: enxoval que não vai com a noiva, tarde ou nunca mais chega”.

Jerónimo de Sousa sublinhou que “não há soluções à esquerda sem rutura com a política de direita”, sendo este “o real obstáculo a uma séria convergência para a construção de uma alternativa política”.

O líder comunista refutou ainda a ideia que de que o PCP, ao não aceitar as condições que o PS lhe quer impor, acaba por empurrar os socialistas para a direita.