O que é nacional é bom. A frase, com os anos e o hábito que os tempos lhe deram, tornou-se lema. Não é raro ouvi-la ou lê-la, quando altura é para exaltar o que se faz cá dentro e desviar o olhar do que vem de fora. Mas tudo depende da perspetiva. E do sítio. Porque do ponto de vista de um leão radicado em Lisboa, os últimos dez anos de visitas à Madeira e ao que, por lá, é Nacional, só lhe tinham dado de volta três vitórias em 12 jogos. Moral deste lema: o que é nacional, para o Sporting, é mais uma dor de cabeça.

E azar, já agora. Porque logo aos 10’, com o jogo ainda a ser criança, um André Martins que não dava um passou bem à titularidade desde a sétima jornada saía lesionado. Ou pela cabeça de Slimani, aos 21’, ter de ser coberta com uma ligadura após um cotovelo a colocar a sangrar. E, sobretudo, porque o Nacional de Manuel Machado, esse sim, estava a ser bom.

Sporting: Rui Patrício; Cédric, Maurício, Paulo Oliveira e Jonathan Silva; William Carvalho, Adrien Silva e André Martins; Carlos Mané, André Carrillo e Islam Slimani.

Nacional: Gottardi; Marçal, Miguel Rodrigues, Zainadine Júnior e João Aurélio; Ali Ghazal, Saleh Gomaa e Fofana; Marco Matias, Suk e Mário Rondón.

Bom sem bola, quando mandava os jogadores pressionar bem lá à frente e obrigarem os leões a pensarem em pouco tempo. Bom por, no centro do relvado, ter em Ali Ghazzal um trinco com um corpo que mal perde duelos físicos e um pé direito ao qual a equipa podia recorrer para, quando era preciso, enviar a bola com um passe preciso, pelo ar, para os pés de alguém que estivesse do outro lado do campo. E bom porque era matreiro — o suficiente para esperar por algo que o Sporting fazia sempre.

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Os leões tocavam mais vezes e durante mais tempo na bola, sim. Mas falhavam muitos passes, dos simples até, em que o jogador não está a mais de três metros de distância. Quando não erravam e conseguiam levar a jogada até Mané ou Carrillo, os extremos, era normal o lateral desse lado avançar no campo. Quando isto acontecia, o sul-coreano Suk, e o venezuelano Mário Rondón, às vezes, já sabiam o que fazer: mexiam-se até ao espaço que esse tal lateral do Sporting deixara e por lá esperavam que a bola lhes chegasse.

Chegou muitas vezes. Logo aos 7’ foi o venezuelano a, no lado esquerdo, o de Jonathan Silva, tabelar com Marçal e rematar ao lado. Depois foi o coreano, em três jogadas, a fugir pelo lado de Cédric, o direito, receber a bola e dali começar jogadas que levavam o Nacional até à área leonina. Aos 31’, por exemplo, Rondón esperou por outra debandada de Jonathan Silva, recebeu a bola e aproveitou a lentidão do bombeiro que lá foi tentar apagar o fogo (Maurício) para o ultrapassar e rematar pouco ao lado da baliza de Rui Patrício.

Pressionar, roubar a bola, lançar contra-ataques rápidos e com poucos toques na bola. Era nisto que o Nacional se mostrava bom. Os leões, porém, também foram melhorando em muita coisa. A bola, com os minutos a passar, ia chegando mais vezes a Slimani. Como aos 19’, em que tabelou com Adrien para o médio depois passar a Cédric, que cruzou a bola para, na área, João Mário cabecear por cima da baliza. Aos 29’, tudo começou no argelino que se mostrou a um lançamento lateral e, com um toque, passa a bola a Adrien e começa a correr. Ela circulou, foi parar a Carrillo, que viu o sprint do argelino, cruzou a bola para onde estimava que ele fosse aparecer e o avançado, de pé esquerdo, rematou ao lado da baliza.

Depois, aos 34’, uma carambola num canto, após bater em cabeças e até braços, sobrou para Slimani, que a rematou por cima da baliza de Gottardi. As oportunidades, de ambos os lados, falhavam-se. Mas não punham travão num jogo com rotação que aguçava o apetite para o que a partida pudesse servir após o intervalo. E o que colocou no prato foi mais intensidade.

E acerto do lado verde e branco. A segunda parte arrancou e Adrien passou a estar mais perto de William Carvalho: cortava os metros que a bola percorria nos passes entre ambos e aproximava-se também da defesa para facilitar a saída de bola. Os erros diminuíram ao mesmo tempo que a velocidade nas jogadas aumentava — e o Nacional sofria com isto. Mais ainda quando, após cinco minutos de um Sporting bem melhor, viu o 1-0 a aparecer. Aos 50’, Jonathan Silva bateu um canto, Slimani cabeceou na bola, Gottardi defendeu-a para a frente e Carlos Mané pontapeou o ressalto para golo.

Os leões melhoravam, a conta do jogo ia sendo tomada e o Nacional que fora bom começava a amolecer. À exceção de Gottardi, guarda-redes que teve de pular muito para, aos 61’, defender a bola que Carrillo rematou em arco, à entrada da área, após com ela fintar um adversário. Ou que, aos 72’, se saiu às pernas de Adrien, quando o médio rematou para fechar uma jogada das bonitas, que começou junto à outra área e que viu João Mário, tabela em tabela (com William Carvalho e Adrien Silva), levar a bola até perto da baliza do Nacional.

Os madeirenses, quando atacavam, já o queriam fazer com mais calma e a trocar mais passes. Os leões já não mandavam um dos laterais avançar, portanto, a fórmula de contra-ataque anulara-se. A desenhar jogadas com cabeça, porém, a equipa confiava em demasia nos pés de Gomaa, o número 10 que não demorava muito tempo a ver-se cercado por adversários. Só à custa chegavam à área leonino e a coisa apenas desemperrou quando Adrien, aos 77’, perdeu uma bola, fez falta para redimir o erro e acabou por o piorar — viu o árbitro mostrar-lhe um cartão amarelo pela segunda vez.

Por isso os leões ainda tiveram de sofrer. E a dor não foi maior porque a bola que o gigante Lucas João rematou com o pé canhoto, aos 82’ e em jeito, rasou o poste da baliza de Rui Patrício — guardião que quatro minutos depois defendeu um remate de Marco Matías quando esteve ficara sozinho, com a bola, dentro da área. Apanhados os sustos, o Sporting usou e abusou de Carrillo para colar a bola ao pé, escondê-la perto da linha e deixar os minutos passar. E, no fim, ganhar e encurtar para um ponto a desvantagem para o terceiro lugar do campeonato do Vitória de Guimarães (que perdeu 1-0 com o Estoril).

Dois anos depois — a última vitória no Estádio da Choupana fora em 2012 –, uma visita ao Nacional foi boa para o Sporting. E o golo até veio do pé direito de um português, para fazer jus ao lema. Ou para o adaptar. O que é nacional, desta vez, foi Mané.