O discurso ultra-conservador e anti-imigração do eurodeputado britânico Nigel Farage chegou a um outro nível. Agora, o líder do UKIP até empurra imigrantes ao pontapé de um penhasco a baixo. Num jogo, claro. Trata-se de uma aplicação para smartphone desenhada por um grupo de estudantes de 18 anos, mas Farage – que é Nicolas Fromage na personagem fictícia – não gostou da brincadeira. “E patético e passou das marcas”, diz.

A sátira em formato de aplicação para smartphone chama-se “UKIK“, que é como quem diz you kick: tu pontapeias, em português, num claro jogo de palavras com a sigla do partido United Kingdom Independence Party (Partido da Independência do Reino Unido). No jogo, a personagem principal é o líder do partido, que aqui aparece com o nome Nicolas Fromage, e o objetivo é atirar o maior número de imigrantes possível pelo precipício a baixo para ganhar pontos de “racismo”.

jogo fromage

A brincadeira não caiu bem ao atual eurodeputado britânico, que, de acordo com o jornal The Guardian, classificou de “patético e ridículo”, dizendo mesmo que “ultrapassa as marcas”. A aplicação foi programada por um grupo de jovens estudantes de 18 anos, da Academia de Canterbury, cujo diretor foi o primeiro a defender o projeto, dizendo que era apenas “uma brincadeira” e que os “políticos deviam conseguir rir-se deles próprios”.

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“Vai ser certamente viral e isso pode ajudar a estimular a discussão política entre os mais novos, que é precisamente o que estamos sempre a dizer que é importante”, defendeu o diretor da escola, citado pelo Independent. Mas o líder do partido que é descrito em Inglaterra como extremista e ultra-conservador, que até diz que é conhecido “por ter um bom sentido de humor”, ficou visivelmente aborrecido com a sátira.

“Sou uma figura pública e por isso claro que a aplicação vai ter sucesso, mas os elementos em que o jogo se baseia parecem-me que ultrapassam claramente as marcas”, disse, aconselhando os jovens a irem ler realmente o programa político do UKIP. “Iriam certamente aprender muito”, acrescentou.

A descrição da aplicação na Google Play store (só está disponível para Android) deixa antever desde logo a sátira política. No lugar da apresentação da app está um apelo político fictício carregado de xenofobia e machismo. Lê-se:

“Cara Grã Bretanha,

As vozes dos estrangeiros nos transportes públicos assustam-vos? Conseguem aguentar um europeu não britânico como vizinho? A vossa mulher recusa-se a limpar atrás do frigorífico? Acham que as mulheres são demasiado estúpidas para ganhar um jogo de xadrez ou para ter um emprego de topo?

Se se sentem irracionais e querem viver num buraco da extrema-direita votem UKIK em maio. Estas pessoas podem até ser boas para o crescimento da nossa economia, contribuir para a nossa cultura ou tornar a o Reino Unido um grande país, mas são diferentes de nós por isso vamos empurrá-las daqui para fora!”

Atenciosamente,

Nicolas Fromage,

UKIK Party

Nas últimas eleições europeias de maio, o UKIP (o verdadeiro) provocou um dos maiores terramotos políticos da Europa. Com o seu discurso profundamente eurocético e anti-imigração, ficou mesmo em primeiro lugar no Reino Unido, com 27,5% dos votos, empurrando o partido conservador do primeiro-ministro David Cameron para o terceiro lugar.

Os cinco estudantes – John Brown, James Dupreez, Fraser Richardson, John Hutchinson e Joe Brown – que arriscaram desenhar a aplicação para uma disciplina do liceu, e que a divulgaram através da startup FonGames, fizeram-no por terem encontrado pontos de comédia nas “visões extremistas do partido”. E apesar de admitirem ser um pouco arrojado, acreditam que “não vai deitar o sistema político britânico abaixo”.