Com ou sem acordo ortográfico, tanto faz. Aboubakar agitou as coisas quando, aos 15 minutos, trocou os olhos a Gouano. Como? Foi uma espécie de “futebolismo literário”. O avançado que chegou este verão ao Dragão pegou na caneta que é o seu pé direito e desenhou uma vírgula diante do defesa central, seguido de um cruzamento de letra. Deu golo? Não senhor, mas foi bonito. O agitar de redes aconteceu aos 61′, após um canto marcado pela canhota de Quintero. O FC Porto venceu o Rio Ave por 1-0 na primeira jornada da fase de grupos da Taça da Liga.

A defesa era nova. O meio-campo, onde Casemiro é o dono, teve a companhia de Quintero e Evandro. O ataque estava entregue a Quaresma (capitão), Adrián e Aboubakar. Foi uma pequena revolução de Lopetegui o que tivemos em Vila do Conde. E não deixa de ser interessante ver o talento e o ouro escondido que ainda existe neste plantel.

A primeira parte foi uma espécie de xadrez de rua, onde cada equipa tinha as suas peças, com limitações e vicissitudes no que toca a movimentações, com um timing aceitável para desenrolar o ataque. O rival permitia-o. O mesmo é dizer que havia pouca pressão de parte a parte, e por isso não se tornou um jogo aborrecido. Os guarda-redes tiveram os seus momentos para brilhar.

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Adrián foi o primeiro a tentar a sorte. Em dose dupla, mas sem sucesso. Os ventos ainda não mudaram a favor deste espanhol que esteve na última final da Liga dos Campeões a vestir a camisola da equipa vencida — Atlético Madrid. Aos 28′ foi a vez de Ederson Moraes, primo do guarda-redes do Benfica Artur, brilhar. Casemiro bateu o livro direto à Ronaldo — quem sabe tenha tido umas lições em Madrid –, mas o brasileiro resolveu bem, apesar da dificuldade. E voltou a resolver mais duas vezes de seguida. Ederson encheu a baliza. Foi o momento mais emocionante da primeira parte. A resposta chegou por Jebor, pelos ares, mas Andrés Fernández fechou a porta à glória alheia.

O intervalo chegava em Vila do Conde com o FC Porto por cima: 63% de posse de bola, 11-7 em remates, 200-84 em passes e mais três quilómetros nas pernas. A identidade desta equipa espelha-se nos números, mas faltou alguma agressividade nesta noite fria de terça-feira.

A segunda parte começou com uma lance bem construído pelo Rio Ave, mas foram os visitantes quem fizeram abanar uma baliza, cortesia de Adrián. O espanhol pegou na bola na esquerda, investiou numa diagonal, desviou-se de inimigos e chutou com o pé direito para o poste direito da baliza de Ederson. Lá está, os ventos da boa fortuna não querem nada com este ex-Atlético Madrid. Depois chegou o tal golo de Aboubakar, aos 61′, após canto de Quintero. O colombiano esteve muitas vezes desaparecido porque se juntava a Casemiro na altura de começar a jogada, quando devia sim estar a procurar espaços na zona 10, ou atrás do avançado.

O empate quase aconteceu quando faltavam 20 minutos para o apito final. Diego Lopes, camisola 10 do Rio Ave, que até começou no banco, ganhou a corrida pelas alturas contra Reyes e Ricardo e cabeceou à trave, com algum estrondo. O barulho da bola a tilintar no ferro nunca deixa de ser delicioso. O cruzamento saiu do pé de Ukra, um ex-jogador do FC Porto. Dois minutos antes, Lopetegui colocou Campaña em campo para o lugar de Quaresma, que não estava com cara de muitos amigos. O extremo cumpria o jogo 200 com a camisola dos dragões (seis anos, 42 golos).

Na caminhada para o fim da partida ainda se viu em campo Brahimi e Óliver. Com a entrada do médio espanhol, o FC Porto registou um recorde histórico: contava seis espanhóis em campo ao mesmo tempo. Foi isso que Lopetegui decidiu quando lançou às feras Andrés Fernández, Marcano, José Ángel, Campanã, Óliver e Adrián.

O jogo, no entanto, não acabaria sem polémica. Um livre marcado para a área do FC Porto, já depois do minuto 90, viu o guarda-redes Ederson Moraes tentar a sorte. A bola acabaria presa no braço e na perna de Casemiro, o que suscitou muitos, muitos protestos dos homens da casa. Mas nada feito. Ponto final em Vila do Conde. A última vez que se registou o mesmo resultado entre estas equipas é preciso puxar a fita para 2010. O herói foi Farías, Ernesto Farías.