O Presidente da República falou, os partidos da oposição criticaram e os do Governo apoiaram. Foi assim que se dividiram as reações à mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva.

O Partido Socialista considerou, esta quinta-feira, que a mensagem de Ano Novo do Presidente da República não reflete “preocupações, deceções e mesmo desespero” de grande parte dos portugueses, e é marcada por um “défice de imparcialidade” em ano de eleições.

“Apesar de eu pensar que é uma mensagem bem intencionada, não há dúvida que há um défice de imparcialidade num ano destes que é de eleições”, referiu Eduardo Ferro Rodrigues. “Seria absolutamente essencial a garantia de uma total imparcialidade do órgão de Presidente da República face às eleições que se vão realizar em 2015 e a contribuição para a coesão nacional na base da maximização da coesão social e do máximo consenso político possível”, acrescentou. Do ponto de vista do PS, “a intervenção do Presidente da República ficou a alguma distância destes imperativos”.

Transmitindo os votos de que 2015 seja o melhor possível para todos os portugueses, desejo que estendeu a Aníbal Cavaco Silva e sua família, Ferro Rodrigues realçou que esta é a última mensagem de Ano Novo que o Presidente da República faz nesta legislatura. Por isso, segundo este político, “seria absolutamente normal que fizesse um balanço e, em primeiro lugar, que demonstrasse a necessidade de assumir a profunda deceção que as portuguesas e os portugueses têm com o sistema onde o Presidente da República ocupa a função principal na hierarquia de Estado e que enfrenta hoje uma séria crise, tanto ao nível executivo como parlamentar como judicial”.

CDS:  muito mais do que uma passagem de um ano

“O que está em causa em 2015” é a escolha entre “quem levou Portugal à pré-bancarrota” e quem “libertou” o país da ‘troika’, disse o vice-presidente dos centristas, Nuno Melo. O dirigente do CDS-PP, que reagiu a partir de Vila Nova de Gaia, afirmou que o PR assinalou “muito mais do que uma passagem de um ano”, até porque “2015 é um ano eleitoral e, nesse sentido, um ano de balanço e de escolhas, e refere que Portugal não poderá voltar aquilo que foi em 2011”.

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Quando questionado, após a sua intervenção sobre anúncios de possíveis coligações para futuros atos eleitorais, o dirigente procurou não se comprometer sobre a possibilidade de voltar a existir uma união à Direita e disse que “o timing será aquele que as direções dos dois partidos entenderem”, referindo-se ao PSD e CDS-PP.

PSD: Sem facilitismos nem ilusões

Depois de ouvir o Presidente da República, o PSD defendeu a necessidade de o país manter o rumo e de rejeitar ilusões de facilitismo, sublinhando que os grandes desafios que Portugal tem pela frente exigem “consensos significativos”.

“O PSD acolhe e revê-se no essencial da mensagem de Ano Novo do Presidente da República, partilhando a sua confiança num ano melhor para os portugueses. Mas, o PSD ressalva também, como faz o Presidente da República, a necessidade de se manter o rumo seguido até aqui, rejeitando a ilusão de que tudo está feito e que o país terá entrado numa nova fase de facilitismos”, afirmou o secretário-geral do PSD, José Matos Rosa.

PCP: uma mensagem mistificada

O PCP classificou a mensagem como um recorrente “conjunto de mistificações”, acusando Cavaco Silva de tentar ocultar a sua própria responsabilidade na “desgraça” do país. “A mensagem do Presidente não traz nada de novo nem de positivo. (…) Trata-se de um conjunto de mistificações para apoiar a continuação e o agravamento da política de direita que tem sido seguida há 38 anos pelo PS, PSD e CDS”, disse à agência Lusa Carlos Gonçalves, da comissão política do Comité Central do PCP.

A primeira mistificação é a “tentativa de ocultação da responsabilidade de Cavaco Silva na desgraça do país”. A segunda é o “apelo ao compromisso futuro de PS, PSD e CDS”; a última mistificação, segundo Carlos Gonçalves, passa pela “insistência num mesmo caminho e numa mesma política, como se isso fosse uma inevitabilidade, uma espécie de fatalidade”.

Bloco de esquerda: PR blinda o tratado orçamental

O Bloco de Esquerda considerou que a mensagem está alinhada com o discurso do Governo e revela cumplicidade nas políticas de austeridade e agravamento da pobreza, ao “blindar o tratado orçamental”. “A mensagem de Ano Novo do presidente Cavaco Silva é uma mensagem política completamente alinhada com o governo de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas”, disse Luís Fazenda em declarações à Lusa.