Portugal deverá chegar ao final de 2015 com uma almofada financeira de dez mil milhões de euros, o que corresponde a cerca de 90% das necessidades de financiamento de 2016, segundo disse à Lusa a presidente do IGCP, Cristina Casalinho. Em entrevista à Lusa, a presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) estimou que o Tesouro deverá chegar ao final de 2015 com uma almofada de “cerca de dez mil milhões de euros para necessidades de financiamento de 11 mil milhões”, ou seja, “quase 80/90%” das necessidades de tesouraria do próximo ano.

De acordo com a última atualização da estratégia de financiamento da dívida pública, de janeiro, o IGCP antecipa que as necessidades líquidas de financiamento do Estado sejam de 11,2 mil milhões de euros em 2015 e que a reserva financeira no final do ano seja de 10,2 mil milhões de euros, prevendo-se ainda que sejam precisos 11 mil milhões de euros para financiar o Estado em 2016.

Ou seja, segundo as estimativas mais atualizadas do IGCP que não incluem uma eventual antecipação do reembolso dos empréstimos ao Fundo Monetário Internacional (FMI), Portugal deverá chegar a dezembro deste ano com uma almofada de liquidez bastante robusta tendo em conta as necessidades de financiamento agora previstas para 2016.

A presidente da agência que gere a dívida pública portuguesa disse, no entanto, que “a tendência é para progressivamente se ir reduzindo a almofada [financeira]”, ainda que esta continue a ser “um elemento estrutural da estratégia de financiamento”.

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Cristina Casalinho explicou que esta reserva de liquidez se deverá reduzir ao longo do tempo, por um lado, porque, “à medida que há uma normalização das condições de mercado, os focos de volatilidade que se antecipam são menores” e, por outro lado, porque “tem de se ponderar bem os custos associados”.

Para a economista, “é bom que haja uma almofada suficientemente significativa de maneira a conseguir que Portugal não esteja no mercado em condições que possam não ser vantajosas”, considerando que este montante funciona “como um seguro de não [se] ser [considerado] ‘investment grade’ [grau de investimento]” pelas agências de ‘rating’.

Cristina Casalinho referiu-se ainda à “nova normalização” do mercado, que considerou estar a ser feita de forma diferente: por um lado, porque “o apoio que os bancos davam para eliminar focos de volatilidade no mercado está a desaparecer” e, por outro, porque “a indústria [do mercado de títulos] está cada vez mais concentrada e isso cria dificuldades”.

“Os bancos agora não têm capacidade de deter títulos [de dívida pública] e ficarem com títulos em balanço [funcionando como] um amortecedor das tensões do sistema”, disse a presidente do IGCP, destacando que esta “não é uma questão específica de [países] periféricos” e que “todos os tesouros europeus têm uma almofada de liquidez maior do que aquela que tinham antes da crise precisamente por causa disso”.

Quanto à evolução do mercado da dívida pública em si, Cristina Casalinho afirmou que “cada vez mais a própria indústria dos fundos – do lado da poupança – é muito mais concentrada”, o que quer dizer que “quem tem sucesso arrebanha cada vez mais volume de fundos”. Por isso, defendeu, Portugal “tem todo o interesse em manter um ‘cash buffer’ [almofada financeira] precisamente para acautelar possibilidades de volatilidade e tensões no mercado”.