O presidente do Governo Regional dos Açores disse esta segunda-feira que a decisão dos Estados Unidos de reduzir a presença na Base das Lajes é “uma má decisão na sua substância e uma decisão hostil na forma como foi tomada e transferida”, acrescentando não querer acreditar que a questão das Lajes possa “ter sido trocada por uma questão das outras áreas previstas no acordo”. Vasco Cordeiro falou aos jornalistas depois de ter sido recebido pelo Presidente da República, Cavaco Silva.

“É necessário evitar que se instale a suspeição de que pode ter havido troca”, disse Vasco Cordeiro, referindo-se ao facto de a presença de militares norte-americanos na base dos Açores ser uma das áreas previstas no Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os EUA e à sua suspeita de que possa ter existido uma troca com as outras áreas. As restantes alíneas do acordo dizem respeito à “modernização e reforço das indústrias e capacidades de investigação e desenvolvimento no setor da defesa”, ao “reforço das capacidades científicas e tecnológicas” e ao “incremento das relações económicas e comerciais bilaterais”.

À semelhança do que tinha dito em entrevista à RTP, no domingo, Vasco Cordeiro defendeu uma revisão total do acordo e não apenas da sua parte técnica, como tinha defendido Passos Coelho. “Rever apenas o acordo técnico é circunscrever a reação desta matéria apenas à questão da Base das Lajes. A forma como Portugal foi tratado nesta situação justifica que Portugal vá mais além”. O Presidente do Governo Regional dos Açores disse que os dois países continuarão amigos, mas acrescentou “que os amigos também se sentem”.

Na entrevista de domingo Vasco Cordeiro tinha admitido que as Lajes podiam vir a ser utilizadas por outro país que não os EUA, como a China. Durante a conferência de imprensa desta tarde, ressalvou que a cooperação com outros países pode ser feita noutras áreas que não a militar. “Não vejo qualquer razão para que – não do ponto de vista militar, mas noutras áreas – se deva fechar a porta a cooperação com outras entidades”.

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“Governo tem de dar explicações”, diz Costa

Depois do encontro com Cavaco Silva, Vasco Cordeiro esteve reunido com o líder do PS, António Costa, que insistiu em pedir explicações ao Governo português sobre uma questão que, afirmou, “diz respeito a todo o país, é um enorme revés da política portuguesa, introduz uma nuvem negra nas relações entre Portugal e os EUA e desvaloriza a nossa posição geoestratégica”. António Costa disse que o Governo tem de explicar como “se chegou até aqui e o que tenciona fazer”. Relativamente à suspeita de ter existido uma negociação entre Portugal e os EUA para obter contrapartidas da redução da presença militar norte-americana nas Lajes, o líder do PS teve uma posição semelhante à do Presidente do Governo dos Açores: “Nem quero acreditar”.

No dia 8 de janeiro foi confirmada a decisão do Governo dos EUA de reduzir a presença militar na Base das Lajes, retirando 500 militares e civis norte-americanos e despedindo 500 trabalhadores portugueses. Segundo o embaixador Robert Sherman, a redução do contingente vai permitir ao Governo norte-americano uma poupança anual de 35 milhões de dólares (29,6 milhões de euros).

Os EUA já tinham anunciado a sua intenção de reduzir a presença nas Lajes há dois anos, mas em dezembro de 2014 houve uma indicação em sentido contrário. Em dezembro, Barack Obama tinha assinado o orçamento das Forças Armadas para 2015 e nesse documento excluía-se a redução da estrutura militar nos Açores.