Uma vitória do Syriza nas eleições gregas pode ser um ponto de viragem para a política europeia e é aplaudida a possibilidade de uma união de Estados para debaterem a dívida pública, como sugerida pelo partido de Alexis Tsipras. É esta a leitura do Partido Socialista português sobre as eleições gregas que têm lugar este domingo.

“A posição do Syriza é importante para toda a Europa porque tem tomado uma posição inteligente de colocar os problemas gregos de uma forma europeia que é partilhada com outros países”, diz ao Observador o deputado e secretário nacional do partido, João Galamba.

Posição semelhante tem o presidente da comissão de Orçamento e Finanças, Eduardo Cabrita, que diz que a Europa tem, em primeiro lugar de respeitar o resultado das eleições, seja ele qual for. Mas vê numa aproximação entre os Estados como uma boa notícia: “O que é fundamental é ter uma estratégia concertada com alguns países como Espanha, Itália ou Irlanda e que se apoie o que está a mudar no plano europeu”.

A ideia de Tsipras que os socialistas olham com mais interesse – apesar de não quererem comentar o detalhe técnico das soluções do grego para renegociar a dívida pública – é a de uma conferência europeia para debater a dívida pública dos Estados europeus, principalmente, aqueles que passaram por programas de ajustamento.

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A ideia de uma conferência para a dívida “é uma ideia que faz todo o sentido e está em linha com o que o PS tem defendido. Olhamos com simpatia para essa ideia”, diz João Galamba. O ministro das Finanças irlandês, Michael Noonan, mostrou-se favorável à ideia e o ministro francês das Finanças, Michel Sapin, numa entrevista ao Financial Times (link para assinantes), disse que os líderes europeus deviam respeitar o próximo líder grego e preparar-se para a mesa das negociações. “Qualquer que seja o resultado das eleições, é absolutamente justo e legítimo que devem existir negociações entre a União Europeia e o governo grego”, defendeu o francês que acrescentou que “o importante é a estabilidade da zona euro”.

E é nesta perspetiva europeia dos problemas que os socialistas mais gostam no discurso do grego. Diz João Galamba que o “Syriza tem insistido numa alteração da agenda política na Europa. Participa num coro de críticas onde se ouve que a Europa tem de mudar. É uma oportunidade para testar se a política europeia vai alterar”.

E nessa nova política europeia os socialistas notam duas mudanças importantes:

1. “A interpretação da Comissão Europeia é o primeiro passo”, diz Galamba. A decisão da Comissão Europeia de clarificar a leitura do Tratado Orçamental quanto ao que conta para a definição do défice estrutural causou um choque entre PS e Governo, que fazem uma interpretação de maneira diferente. O Governo diz que a regra só conta para países que não estejam em procedimento de défices excessivos (abaixo de 3%), já António Costa diz que se aplica a todos. Ora, por isso, o socialista João Galamba vê nesta clarificação uma boa notícia e uma abertura das instituições europeias.

2. “O plano Juncker não aconteceu por acaso”, diz Cabrita, referindo-se ao pacote de investimentos anunciado pelo presidente da Comissão Europeia e que, para o socialista, é mais um ponto que mostra que a Europa está a mudar e a abandonar aos poucos a austeridade pura e dura.

No entanto, se o Syriza ganhar, mas não conseguir maioria absoluta, o que é provável tendo em conta as sondagens, Cabrita lembra que há mais uma questão que pode ser importante: “Se o Syriza não tiver maioria é também um teste à capacidade de o Syriza ter um diálogo e um discurso construtivo. Tal como em Portugal não há forças que devem ser colocadas num gueto, têm de ser responsabilizadas para criar uma solução”.

Só muda a Grécia

Já o deputado do PSD, António Rodrigues, acredita que a única coisa que irá mudar é a perspetiva europeia em relação à Grécia e não a política europeia em si.

“Não acredito que aconteça nada na Europa mesmo que o Syriza ganhe. A política europeia não pode ficar condicionada à escolha de Governo que um país democraticamente escolheu. O que pode mudar é a visão europeia em relação à própria Grécia”, diz em declarações ao Observador.

O social-democrata defende que a Europa já tem dado respostas à crise europeia, lembrando a decisão desta quinta-feira do BCE de comprar ativos de 60 mil milhões por mês. “A Europa tem tido intervenção para resolver a crise. Não pode haver uma resposta conjuntural”, acrescenta. Já quanto à possibilidade de o Governo português participar numa conferência sobre a dívida, António Rodrigues insiste na ideia que “nada muda na posição de Portugal”.