As duas empresas que auditaram o BES nos últimos anos entraram em contradição na comissão de inquérito. Esta quarta-feira perante os deputados dos vários grupos políticos, Inês Viegas, sócia da KPMG, empresa que passou a auditar as contas do BES em 2002, altura em que a PwC deixou de o fazer, disse que apesar de várias reuniões, a PwC nunca expressou “qualquer preocupação com a consolidação das contas da ESI” ou com a maneira como Ricardo Salgado geria o banco. Inês Viegas diz mesmo que nunca viu os relatórios do PwC.
Na semana passada, José Alves, presidente da PwC, disse que a sua empresa tinha abandonado a auditoria à contas do BES devido a “problemas de governo do banco, com a concentração em Ricardo Salgado das funções de presidente, contabilidade e financeira”. A não consolidação das contas da Espírito Santo Internacional (ESI), a holding do grupo, e a concessão de crédito a entidades offshore que tinham ações da PT e do BES, foram razões invocadas pela PwC que referiu ainda um clima de tensão e desgaste entre auditoria e cliente.
Inês Viegas diz que nunca constatou esta acumulação de funções em Ricardo Salgado e que, apesar da sua “personalidade forte” havia “diversidade de interlocutores. A funcionária da KPMG disse ainda que quando iniciou o seu trabalho em 2002, quem era responsável pela área financeira do banco era Manuel Pinho, que viria a ser ministro da Economia no governo de José Sócrates.
“Nas três reuniões que tivemos em julho de 2002, a PwC disse que não tinha nenhum aspeto que desaconselhasse o negócio. Disseram que o BES era um bom cliente e que não havia limitações de qualquer âmbito”, disse Inês Viegas, que mais tarde disse ter ficado com a certeza de que assim seria já que a então recém-criada comissão de auditoria do BES acabou por ser liderada pelo então presidente da PwC e um dos sócios também transitou posteriormente para este órgão do banco.
A sócia da KPMG, que esteve à frente das auditorias do banco entre 2002 e 2008, disse que não teve acesso ao relatório de 2001 da PwC e que apenas o viu “publicado num jornal”. O deputado comunista Miguel Tiago questionou o presidente da comissão se seria possível fornecer a Inês Viegas esse e outros relatórios da PwC, já que chegaram ao Parlamento e mostram preocupação com a sustentabilidade futura do banco.