O plano estratégico da futura administração da RTP, que recebeu luz verde do Conselho Geral Independente (CGI), aponta para um caminho de redução de custos de pessoal e de serviços externos para concentrar recursos na grelha e maior produção de conteúdos.
No documento de 18 páginas, a que o Observador teve acesso, lê-se que “deverão concentrar-se os esforços de contenção na esfera de gastos em fornecimento e serviços de terceiros e em custos de pessoal associados a funções administrativas de baixo valor acrescentado, tentando salvaguardar os montantes a disponibilizar para a grelha/produção de conteúdos” e que, por isso, “devem ser estudados programas e iniciativas que permitam a redução de custos estruturais tanto de pessoal como de serviços externos mesmo que impliquem o aumento do endividamento bancário”.
As orientações elaboradas pela nova equipa (Gonçalo Reis, Nuno Artur Silva e Cristina Tomé) são no sentido de que a estação pública assuma “um posicionamento e política de conteúdos diferenciador e não concorrencial face aos operadores privados, com uma programação claramente orientada para os cânones de serviço público, alcançando um caráter próprio, distintivo no panorama do audiovisual”.
Isto vai traduzir-se em quê? “Num posicionamento significativamente diferente”. Por exemplo, numa grelha de prime time da RTP 1 vertical e não horizontal, ou seja, diferente de noite para noite e não sempre igual de segunda a sexta-feira, maior divulgação da produção e dos agentes nacionais, mais espaço dedicado ao público infantil na RTP 1, mais investimento nas novas plataformas multimedia, aumento da produção de ficção, “balanceamento da oferta de entretenimento ligeiro”.
“Registe-se que uma nova oferta da RTP no online, de qualidade, produzida e editada numa lógica de “best of” poderá ser um instrumento potente de divulgação global complementar aos serviços de programas internacionais de televisão e rádio; por outro lado, uma forte aposta nestes domínios também irá de encontro às novas tendências de consumo de media, crescentemente baseadas em equipamentos digitais e plataformas como sites/redes sociais/portais/agregadores de notícias/edições eletrónicas”, lê-se.
Os espetadores devem ser vistos “como cidadãos e não como consumidores” e a RTP “não deve procurar disputar audiência com programas dos privados”.
Quanto à RTP2, deve ser “alternativa e de perfil cultural, com programação temática e particularmente aberta à inovação, que faça também a cobertura do desporto amador, e que contemple de forma criativa o cumprimento das obrigações com minorias, etnias e religiões”. Já a Antena 2 deve ser também reforçada, nomeadamente, na oferta de programas de autor.
A nova administração, indigitada esta quarta-feira pelo GCI, deverá ir na próxima semana ao Parlamento para uma audição prévia e só depois disso tomará posse. A equipa de Alberto da Ponte vai renunciar esta semana, depois de o GCI ter chumbado o seu plano estratégico.
O CGI considerou que o documento de Alberto da Ponte revelava “insuficiência que o fere de qualquer eficácia” e que isso se manifestava “na débil natureza qualitativa e na ausência de especificação das suas propostas”.