A Declaração de Nova Iorque sobre as Florestas, de setembro de 2014, pretendeu juntar governos, empresas multinacionais, populações indígenas e sociedade civil no combate à desflorestação. Com o Forest 500, podem avaliar-se anualmente os progressos feitos por estes organismos para cumprir os objetivos da declaração – diminuir a destruição das florestas até 2020 e acabar com o flagelo até 2030 – e encontrar outras instituições que possam estar interessadas em fazer parte deste grupo.
As florestas tropicais do sudeste asiático substituídas por plantações para a produção de óleo de palma, os hectares de floresta amazónica destruídas para a plantação de soja ou produção de gado ou as florestas de Madagáscar que dão lugar a arrozais, são apenas alguns dos exemplos da desflorestação que tem acontecido um pouco por todo o mundo, com especial incidência nas zonas com maior diversidade do planeta.
Ainda que as algumas das 500 organizações possam não ser responsáveis diretas pela destruição florestal, a atividade económica que desenvolvem pode potenciá-la, alerta, citado pelo El Pais, Mario Rautner, diretor do programa de Fatores de Desflorestação do Global Canopy Programme. Esta atividade inclui o uso de óleo de palma, soja, carne de vaca e pele, madeira, pasta de papel e o próprio papel, movimentando mais de 150 mil milhões de dólares anualmente [cerca de 133 mil milhões de euros).
Durante a última década a produção de alimentos, rações e combustíveis levou à perda de mais de 50% de floresta e à degradação de 60% das florestas restantes.
Avaliar as políticas das empresas e instituições, assim como as medidas que têm sido efetivamente tomadas, permite ao Forest 500 atribuir uma classificação, de 1 a 5, aos organismos avaliados. Mas até agora apenas sete conseguiram a classificação máxima – entre as empresas, os grupos ligados à alimentação Danone e Nestlé e os grupos ligados aos produtos domésticos e cosméticos Procter & Gamble, Unilever, Reckitt Benckiser e Kao Corporation, e entre os investidores, HSBC Holdings (The Hongkong and Shanghai Banking Corporation), um dos maiores bancos do mundo.
Nenhuma entidade portuguesa consta nesta lista de 500, e da vizinha Espanha apenas o banco Santander e a empresa de vestuário, acessórios e produtos para o lar, Inditex – ambos com uma classificação 3. “A Inditex foi classificada como um dos maiores distribuidores de moda do mundo e está entre as dez maiores empresas de calçado da Europa Ocidental. Portanto, deveria ter políticas que assegurassem a não utilização de pele de animais criados na floresta amazónica”, refere Mario Rautner, acrescentando: Não encontrámos indícios de que a empresa esteja a aplicar estas políticas.”
Espanha também, enquanto jurisdição, obteve classificação 3, não tendo nenhum dos 50 países tido classificação máxima. Ainda assim, países como Brasil, Colômbia e Peru estão entre as jurisdições melhores classificadas (pontuação 4), assim como o Espaço Económico Europeu. Mas, independentemente das políticas de cada país, o diretor do programa de Fatores de Desflorestação do Global Canopy Programme lembra que todos nós somos responsáveis: “Na realidade, todos fazemos parte de uma economia mundial desflorestadora. A desflorestação encontra-se no nosso chocolate e na nossa pasta de dentes, na nossa comida para os animais e nos nossos livros, nos nossos edifícios e no nosso mobiliário, nos nossos investimentos e nas nossas pensões.”