Como as comunidades humanas, quando se sentem em perigo as bactérias juntam-se em grupos para se defenderem e assim que estão bem estabelecidas partem à conquista. A comparação vem de Cecília Arraiano, investigadora no Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa, coordenadora do estudo que permitiu perceber o que faz com que as bactérias nadem livremente ou se fixem numa comunidade. O papel da proteína BolA neste processo vem publicado esta terça-feira na revista da Sociedade Americana de Microbiologia.
Já se sabia que quando havia muita proteína BolA numa cultura de bactérias em laboratório, estas tendiam a formar biofilmes, só não se sabia porquê. O estudo coordenado pelo ITQB permitiu descobrir que a proteína se liga ao ADN das bactérias controlando que genes podem ser ativados ou não – os flagelos, que usam para nadar, desaparecem e começavam a produzir-se substâncias que permitem fixar-se umas às outras. A expressão ‘a união faz a força’ mostra-se válida neste caso e as bactérias em biofilmes são muito mais difíceis de matar, ficando mais resistentes a antibióticos e desinfetantes.
“O biofilme tem características de uma unidade só”, explica ao Observador Cecília Arraiano, acrescentando que é também através das moléculas que segregam para o muco que as bactérias comunicam entre si. Avisando inclusivamente que o grupo já está bem estabelecido e que algumas se podem soltar e nadar livremente para colonizar outros locais.
O estudo foi feito com uma bactéria modelo – a Escherichia coli, que existe no nosso intestino -, mas a investigadora espera poder alargar o estudo a outras bactérias como a Salmonella ou a Legionella. Parte do problema com as torres de refrigeração que contaminaram o ambiente com Legionella no concelho de Vila Franca de Xira deveu-se à capacidade de formar biofilmes nas paredes ou outras superfícies internas das torres. Quando aderem a uma superfície, os biofilmes podem desenvolver muito mais.
Além de poderem formar biofilmes nas superfícies exteriores, também o podem fazer dentro do nosso organismo – nas mucosas dos brônquios ou na placa bacteriana – ou nos cateteres das pessoas hospitalizadas. Descobrir como se inibe a produção da proteína BolA será importante para combater estas bactérias quando formam biofilmes. Para isso a equipa de Cecília Arraiana está a colaborar no estudo da estrutura da proteína – descobrir como se monta o ‘esqueleto’ da mesma, para poder ser mais fácil combatê-lo.