1. Primeiro não foi o ovo nem a galinha, não foi sequer o crocodilo. Felipe Oliveira Baptista, diretor criativo da Lacoste, respondeu na roupa: “René did it first”, numa homenagem a René Lacoste, fundador da marca hoje encabeçada pelo português. Como num jogo de ténis chique — onde não faltaram as fitas na cabeça nem as saias curtas plissadas — Oliveira Baptista apresentou um dos desfiles mais elogiados e bem-dispostos da Mercedes-Benz Fashion Week, que arrancou dia 11 de fevereiro em Nova Iorque. Vários críticos, do Style.com à Forbes, compararam os modelos da Lacoste a personagens do filme de Wes Anderson, Os Tenenbaums.
2. Na mesma onda desportiva, Tommy Hilfiger festejou os 30 anos da marca transformando a passerelle num estádio de futebol americano com um toque retro. Camisolas com números, bolas aplicadas em lapelas e uma versão feminina das antigas botas calçadas por homens encorpados foram alguns dos pontos altos da sua partida — perdão, desfile.
3. Da ponta dos pés à ponta dos cabelos, Jeremy Scott manteve-se fiel ao uso da cor. E se as pernas apareceram cobertas por collants verdes, amarelas, azuis ou cor de laranja, a surpresa foram as perucas usadas pelas modelos. Em forma de bob, foram pintadas à mão em cores garridas e acompanhadas por pálpebras igualmente coloridas.
4. Para além de cantar “Na-na-na that that don’t kill me”, Kanye West também desenha roupa. A apresentação do seu desfile para a Adidas Originals foi um pouco como a letra do hit “Stronger”: 50 modelos a avançar como uma coluna militar pela passerelle fora, com casacos camuflados e ao som do novo álbum do rapper, Wolves. Nos pés de vários modelos homens foram avistados os Yeezy Boots 750 que West calçou nos Grammys e que já são apontados como os próximos ténis a comprar — aparentemente, Justin Bieber reclamou o seu par ainda nos bastidores.
5. E de repente ficou tudo azul para o desfile de Carolina Herrera, que se inspirou na água para o pronto-a-vestir do próximo outono/inverno. Não faltaram gotas em saias compridas ou padrões a lembrarem o reflexo do mar, a fazer companhia a outras criações mais abstratas.
6. Visons pretos, mangas bordadas e muitos vestidos: o primeiro desfile Oscar de la Renta depois da morte do designer, em outubro de 2014, manteve a tradição através do sucessor Peter Copping. No entanto, ventos de rejuvenescimento sopraram em propostas como as rendas transparentes e as mini-saias que deixaram ver mais pele. Um contraste expresso desde logo na primeira fila, como notou o New York Times: “de um lado da passerelle [sentou-se] a velha guarda, as senhoras impecavelmente penteadas vestidas com peles caras que tornaram Oscar de la Renta um ícone da Park Avenue”, do outro lado “a nova guarda”: Taylor Swift e Karlie Kloss, melhores amigas com vestidos Oscar de la Renta a condizer.
7. Ventos de mudança sopraram também na escolha das modelos. Para além de Jamie Brewer, a primeira mulher com Síndrome de Down a desfilar na passerelle, Chantelle Brown-Young tornou-se a primeira modelo com vitiligo, uma doença de pele, a desfilar para uma grande marca em Nova Iorque. O nome foi apropriado — a modelo canadiana de 20 anos mostrou as criações da Desigual, como tinha feito uns dias antes em Madrid — e a escolha foi decisiva para chamar a atenção para a diferença, numa indústria com décadas de 86-60-86 que por vezes parecem fotocopiados. Chantelle, que responde pelo alter-ego Winnie Harlow, pode ser vista também na nova campanha da Diesel.
Depois de Nova Iorque, a moda viaja até Londres (de 20 a 24 de fevereiro), Milão (25 de fevereiro a 2 de março) e Paris (4 a 11 de março).