O jornal inglês The Daily Telegraph respondeu esta sexta-feira às críticas que lhe têm sido feitas pelas alegadas falhas na cobertura do caso HSBC/SwissLeaks. E fê-lo de forma dura. “Este jornal não pede desculpa pela forma como acompanhou o grupo HSBC e as alegações de irregularidades praticadas pela sucursal suíça”, lê-se logo na primeira linha de um longo texto editorial não assinado, publicado na edição desta sexta.

Na quarta-feira, um dos principais jornalistas políticos do Telegraph, Peter Oborne, denunciou no site Open Democracy que o jornal inglês teria impedido várias investigações jornalísticas ao banco HSBC, que nas duas últimas semanas foi alvo de grande atenção mediática por, supostamente, a sua sucursal na Suíça ter ajudado centenas de milionários a fugir aos impostos. Segundo Oborne, esses trabalhos nunca puderam avançar porque o banco era um dos principais anunciantes do jornal.

Além disso, segundo o Guardian, o HSBC emprestou 250 milhões de libras (cerca de 340 milhões de euros) aos donos do Telegraph pouco antes de a investigação pedida pelos jornalistas ter sido boicotada. O dinheiro não foi destinado diretamente ao jornal, mas sim a uma empresa de entregas, a Yodel, que, na altura, dava prejuízo – e que pertence aos irmãos Barclays, proprietários de um vasto império económico.

Agora, no editorial do Telegraph, o jornal dispara em todas as direções.

“Não aceitamos lições de jornalismo da BBC, do Guardian ou do Times. Esses meios de comunicação que esta semana estão a atacar-nos sobre a nossa cobertura do HSBC foram igualmente desdenhosos em 2009 quando começámos a revelar os detalhes das folhas de despesas dos deputados, um facto gritante acerca do seu julgamento e parcialidade”

Por outro lado, argumenta o texto, a cobertura do caso SwissLeaks tem motivações políticas. Além de acusar a BBC e o Guardian de terem “almas gémeas” no Partido Trabalhista, o editorial diz ainda:

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“Acreditamos que não estamos sozinhos na nossa suspeição de que esses meios [de comunicação] deram a este assunto uma tal proeminência parcialmente devido à sua entranhada hostilidade aos negócios e parcialmente com a intenção de causar dano político ao atual governo e ao Partido Conservador, em particular.

Como já noticiámos longamente, Ed Miliband [líder dos Trabalhistas] não perdeu uma única oportunidade de usar este caso como uma arma contra os Conservadores e seus apoiantes, um ataque que se alargou a todos aqueles que tomam medidas perfeitamente legítimas e legais para reduzirem as suas despesas com impostos.”

No texto, o Telegraph diz orgulhar-se de ser “o campeão da economia britânica”, assumindo que sempre defendeu as indústrias que mais contribuem para o PIB e para os impostos do Reino Unido. Ainda assim, “o nosso apoio aos serviços financeiros britânicos nunca nos cegou para as falhas da indústria”, argumenta-se. E é citado um exemplo: em 2012, o Telegraph denunciou que o HSBC estava a ser investigado por ter ajudado criminosos a abrir contas offshore. “Muitos dos meios de comunicação que estão hoje tão excitados acerca da conduta do HSBC mostraram muito pouco interesse nestas revelações, na altura”, acusa o jornal.

“Para que não haja dúvidas, não queremos saber das opiniões de organizações de comunicação rivais. Nenhuma é o paradigma de virtude moral ou jornalística que as suas críticas esta semana parecem sugerir. Todas têm a sua agenda própria, política e comercialmente.”

Por fim, as últimas palavras do editorial são para os leitores do Telegraph, que promete agora estabelecer “claramente” diretrizes acerca de como as equipas editoriais e comerciais vão trabalhar no futuro.

“Estamos orgulhosos de fazermos aquilo que os nossos críticos não conseguem ou não farão: combinar excelência jornalística com sucesso comercial. Fazemo-lo por vocês, nossos leitores. E continuaremos a fazê-lo.”