Num artigo hoje publicado no Diário Económico (link para assinantes), Vítor Bento procura dar a “Interpretação autêntica” do ensaio que publicou no Observador, a 8 de fevereiro, “Eurocrise: Uma Outra Perspectiva”. Isto por entendeu que foram ele feitas interpretações onde não se revê.

O economista começa por sublinhar que o essencial do conteúdo desse ensaio não é novo para quem segue aquilo que vai escrevendo, publicando ou dizendo em intervenções públicas. Refere em particular uma intervenção recente, a 12 de janeiro, numa conferência do Diário Económico, “em comentário à do orador principal, Sr. Klaus Regling”, e no seu mais recente livro, de 2013, “Euro Forte, Euro Fraco”. Isto para além de um artigo de 2010 no Jornal de Negócios e de um capítulo no seu livro de 2011 “O Nó Cego da Economia”. Ou seja:

“Não há, portanto, qualquer revisão de pensamento. Há, antes, uma persistente continuidade.”

Mesmo assim, depois de considerar que nenhum autor pode limitar as interpretações do que escreve, procura deixar vários esclarecimentos, pois entende que “o que escrevi sobre a zona euro, não é contraditório com o que tenho dito e escrito sobre Portugal”. Até porque “o artigo é sobre a zona euro como um todo e não sobre Portugal”. Ora, sobre Portugal, Vítor Bento sempre entendeu e entende que se “fez o que tinha a fazer”:

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“Tendo-se deparado com a ameaça de bancarrota, por se lhe terem fechado as normais fontes de financiamento proporcionadas pelo mercado, e continuando a acumular consideráveis défices – nas contas externas e nas contas públicas -, não tinha alternativa senão empreender um exigente programa de ajustamento da sua economia, negociado com as autoridades comunitárias, de cuja assistência financeira ficou dependente para não falhar pagamentos e poder distribuir os custos do ajustamento por vários anos.”

Ao mesmo tempo, prossegue Vítor Bento, sempre defendeu que Portugal, “não dispondo de taxa de câmbio, esse ajustamento seria mais duro, demorado e incompleto”. Daí que tivesse também defendido uma resposta sistémica, envolvendo os demais países da zona euro, resposta essa que não ocorreu. Ora foi precisamente as circunstâncias e as consequências dessa ausência que foram objeto do ensaio de Vítor Bento. E conclui:

“A interrogação que eu esperaria que o ensaio tivesse suscitado era sobre se será possível implementar uma política económica para a zona euro, que tenha em conta uma visão sistémica, como sustenta o ensaio, sem passar por uma maior integração política. E, por conseguinte, que tivesse levado à discussão sobre o compromisso desejável e possível entre: a) uma política económica mais integrada para toda a zona euro, implicando para isso uma maior integração e centralização da esfera política de decisão nesta matéria; e b) a preservação da soberania sobre a política económica mais descentralizada nacionalmente, aceitando, em contrapartida, processos mais assimétricos de ajustamento a choques económicos e com efeitos mais desiguais (como acontece actualmente). Porque tal discussão vai ser incontornável.”