Escrever uma frase. Uma. Escrever outra frase. Duas. Beber água. Três. Ir à casa de banho. Quatro. Cinco. Seis. Sete. E podíamos continuar. Em média, cada pessoa olha para o telemóvel umas 150 vezes por dia, sobretudo quando este não vibra ou não toca. O hábito, está provado, pode ter efeitos negativos para a saúde, mas pode também ser mais do que isso: um sintoma de depressão.
A conclusão é de um estudo científico da Universidade de Baylor, no estado norte-americano do Texas, que fez inquéritos a 346 estudantes universitários para perceber qual a ligação entre o ato constante de verificar o telemóvel e as alterações na personalidade. Segundo o estudo “I need my smartphone: A hierarchical model of personality and cell-phone addiction” (“Preciso do meu smartphone: um modelo hierárquico de personalidade e do vício em telemóveis”, em tradução livre), as pessoas com esta atitude poderão estar a tentar melhorar o seu estado de espírito.
Aos entrevistados, com idades compreendidas entre os 19 e os 24 anos, foram feitas perguntas sobre traços de personalidade, a relação com os objetos e a utilização dos telemóveis, que permitiram concluir que as pessoas com este tipo de atitude estão mais predispostas a ter comportamentos temperamentais e a irritarem-se do que as outras. Ou seja, a sua estabilidade emocional é mais facilmente posta em causa nestes casos.
Além disso, o estudo, que os autores admitem ser um primeiro passo num tema a precisar de mais pesquisa, concluiu ainda que as pessoas que verificam frequentemente o telemóvel têm um défice de atenção para as tarefas que estão a desempenhar superior ao das restantes pessoas, algo que já foi associado a estados de espírito negativos em outros trabalhos científicos.
“Tal como o vício numa variedade de substâncias, o vício do telemóvel pode ser uma tentativa de melhorar o humor. Verificar incessantemente os e-mails, enviar mensagens, tweetar e navegar na net podem funcionar como pacificadores da pessoa instável, distraindo-a das preocupações e dando-lhe consolo, ainda que temporário”, lê-se no estudo.