Nasceu um novo escândalo político no Reino Unido. Dois antigos ministros britânicos admitiram que, enquanto desempenharam os cargos, aceitaram pagamentos a troco de conseguirem benefícios, utilizando as influências e contactos dos seus cargos políticos, para certas empresas. E Jack Straw, do Partido Trabalhista, e Malcolm Rifkind, do Partido Conservador, aceitariam fazê-lo de novo caso recebessem pagamentos diários a rondar os 6.800 euros.
As confissões foram gravadas em vídeo por dois repórteres do Daily Telegraph, em janeiro, quando se fizeram passar por consultores da PMR, um empresa fictícia que estaria sediada em Hong Kong, e conseguiram reunir com ambos os políticos. O caso, apelidado “Access for Money [Dinheiro por Acesso, em tradução literal]” pela imprensa inglesa, já teve consequências: Rifking, atual diretor do Comité de Inteligência e Segurança, responsável pelos serviços secretos britânicos, foi esta segunda-feira expulso do Partido Conservador.
Com Malcom Rifkind, que foi ministro dos Transportes (1990-92) e da Defesa (1992-95) durante o Governo do conservador John Major, e Secretário de Estado para a Escócia (1986-90) sob a liderança de Margaret Tatcher, os jornalistas do Daily Telegraph chegarem a ter várias reuniões.
Numa delas, escreve o jornal, foi sugerido ao deputado que a fictícia empresa chinesa estaria interessada em investir na Polónia. Rifkind, portanto, foi questionado sobre o que poderia fazer para os ajudar. “Posso ver qualquer embaixador que queira. Isso dá um acesso útil”, resumiu, ao explicar que poderia questionar o representante polaco sobre se “esperaria que houvesse alguma dificuldade do ponto de vista do governo [polaco]…”.
Quando inquirido sobre quanto teria de receber para executar este tipo de trabalho, o ex-ministro referiu que, em tempos, um banco pagara-lhe “entre 6.800 e 10.800 euros” para ter Malcom Rifkind como conselheiro.
Jack Straw, deputado desde 1979 e ministro entre 1997 e 2006 — primeiro com a pasta do Interior, até 2001, e depois nos Negócios Estrangeiros — nos Governos de Tony Blair, admitiu que chegou a convencer o primeiro-ministro da Ucrânia a alterar uma lei nacional que estaria contra os interesses da tal empresa. Apesar de sublinhar que os detalhes eram “estritamente confidenciais”, o deputado indicou que a empresa em questão lhe pagava mais de 81 mil euros por ano enquanto assumiu funções de ministro.
Durante o encontro, o político, de 69 anos, revelou que chegou a colocar questões a deputados e ministros, durante sessões ou debates no Parlamento. O ainda hoje deputado britânico, aliás, reconheceu ter contribuído para que a União Europeia alteração uma lei que regulava o comércio de açúcar no espaço comunitário. “Encontrei-me com o diretor geral em questão e os seus oficiais em Bruxelas. É público que as leis foram alterações, mas a melhor maneira de lidar com estas coisas é fora dos radares”, explicou, citado pelo diário inglês.
No seguimento destas denúncias, Ed Miliban, líder do Partido Trabalhista, requereu, por carta, a David Cameron, primeiro-ministro inglês, que tome a iniciativa e crie uma legislação que impeça os deputados de, simultaneamente ao cargo político, exercer funções de diretoria ou consultoria exteriores. “Temos de agir para melhorar a reputação do nosso Parlamento aos olhos do povo britânico”, frisou Miliban, citado pelo The Guardian.
O salário de um deputado inglês, indicou o mesmo jornal, ronda as 67.000 libras anuais — ou seja, cerca de 91 mil euros.