Do lado de fora, o velho edifício da Escola de Música do Conservatório Nacional, situado na Rua dos Caetanos, em Lisboa, conserva ainda alguma da sua monumentalidade. Mas quem entra no antigo Convento dos Caetanos percebe a saturação a que chegaram todos os que desde terça-feira se manifestam no exterior. O pedido de obras urgentes é sustentado pela proteção civil e pela Câmara Municipal de Lisboa, que recentemente decretou o encerramento de 10 salas de aula. Chove em todas elas.

A sala “Jorge Peixinho”, batizada com o nome do maestro, compositor e pianista que ali estudou, foi a primeira das 10 salas a ser encerrada, depois de há “dois ou três meses o teto quase ter caído em cima de um aluno”, contou uma funcionária. Há outros relatos de pedaços de teto que caem durante o decorrer das aulas.

A humidade e o cheiro a mofo estão por quase todo o lado. As infiltrações estão em contacto com a rede elétrica, o que aumenta a “insegurança em relação ao risco de incêndio”, como se pode ler na notificação enviada à Escola de Música do Conservatório Nacional (EMCN) pela Câmara Municipal de Lisboa, a que o Observador teve acesso.

A fachada que se vê dos pátios parece-se com um dos vários edifícios abandonados de Lisboa. Só que por ali passam, diariamente, mais de 900 alunos, para além do corpo docente e restantes funcionários. “São constipações atrás de constipações”, queixa-se um dos funcionários do terceiro e último piso, onde as infiltrações são mais fortes e o cheiro a mofo está entranhado. As janelas não têm isolamento, há vidros partidos por onde entra diretamente o frio e a chuva. Junto a alguns caixilhos, a tinta pastel descascada deixa ver o cinzento do cimento e a cor negra da humidade. Por baixo dos tetos onde cai água quando chove, o chão de madeira está branco, destruído pela água.

Após os protestos que começaram na terça-feira, a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares reuniu com a direção da EMCN esta quinta-feira e concordou em desbloquear verbas “tendo em vista a realização, neste momento, das intervenções mais urgentes, que permitam melhorar as condições de funcionamento do edifício”, conforme nota enviada ao Observador.

A diretora da EMCN, Ana Mafalda Pernão, admite que é uma pequena vitória, já que as intervenções vão além das 10 salas interditas, como era a intenção inicial, e incluem as restantes salas onde caíram tetos, o pátio e também o telhado. Mas sublinha que continuam a ser “remendos”. Enquanto não se fizer uma requalificação, os danos vão continuar. Os protestos também.

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