Marcelo Rebelo de Sousa acusou este domingo o Presidente da República de ter tido uma saída “nada feliz” quando se recusou a comentar aos jornalistas o caso das dívidas de Passos Coelho dizendo tratar-se de “lutas político-partidárias” agravadas pelo “cheiro de campanha pré-eleitoral”. Para o professor, Cavaco Silva devia mesmo ter-se abstido de se pronunciar sobre o caso, já que as “querelas políticas” das últimas semanas devem-se ao facto de Cavaco não ter querido antecipar as eleições.

“O Presidente da República não esteve feliz porque teve de reconhecer que há este cheiro de pré-campanha eleitoral, e este cheiro existe porque não quis marcar eleições mais cedo. Agora não se pode queixar do clima que existe e da dificuldade de haver consensos entre partidos”, disse o ex-líder do PSD no seu habitual espaço de comentário semanal na TVI.

Segundo Marcelo, o que Cavaco fez ao comentar o assunto de forma “prematura” foi “deitar petróleo sobre a fogueira”. E fê-lo numa altura em que o “calor político” já está a bater recordes. O Presidente da República “devia ter prevenido” o efeito dominó que as suas palavras teriam no ambiente político-partidário e, nesse sentido, não devia ter falado antes de “o primeiro-ministro dar todos os esclarecimento que faltam no Parlamento”.

Sobre a atitude do primeiro-ministro ao longo da última semana, que se desdobrou em justificações sobre o caso das dívidas à segurança social, o professor sublinhou um aspeto onde Pedro Passos Coelho “esteve mesmo muito mal”, que foi na alusão a José Sócrates no discurso de encerramento das jornadas parlamentares do PSD. “Isso é afastar-se da estratégia do PSD que sempre foi não misturar o caso judicial de José Sócrates com o debate político”, disse, acrescentando que o que Passos fez foi “pronunciar-se, sem o fazer, sobre uma questão onde há presunção da inocência”.

Em relação às sucessivas justificações do primeiro-ministro sobre o tema, Marcelo considera que “mais valia pedir desculpa de uma só vez, ao seu estilo, dizendo que não pagou por não ter noção de que tinha de pagar”. Para o comentador, Passos não devia ter assumido que foi por “distração ou falta de dinheiro”, porque “as pessoas gostam de ver o exemplo nos políticos”. Mas, de resto, Marcelo diz não ter dúvidas de que o caso dos processos fiscais e contributivos do passado de Pedro Passos Coelho fazem parte de “uma querela eleitoral” e são “empolados por motivos políticos”.

“Há aqui uma questão eleitoral e um caso político”, disse, remetendo todas as justificações que faltam para o debate quinzenal com o primeiro-ministro que está marcado para a próxima quarta-feira, no Parlamento.

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