A Galp Energia está esta terça-feira em Londres a apresentar o novo plano estratégico aos investidores. A estratégia reduz em 20% o investimento previsto para o horizonte 2015/2019, o que representa menos 1,3 a 1,5 mil milhões de euros.
Esta revisão em baixa reflete sobretudo o atraso de alguns projetos no Brasil, como consequência do caso de corrupção que está a penalizar a Petrobras. Este ano a Galp prevê investir 1,3 a 1,5 mil milhões de euros, mas a partir do próximo ano, o valor médio do investimento baixa em 100 milhões de euros para um intervalo entre 1,2 e 1,4 mil milhões de euros. Outro fator referido para explicar o menor investimento é a redução de custos do desenvolvimento dos novos projetos, por uma melhoria da eficiência operacional.
O pacote, que irá oscilar entre 6100 a 7100 milhões de euros, continuará concentrado na exploração e produção de petróleo e gás natural, com destaque para os projetos do pré-sal no Brasil e gás natural em Moçambique, bem como ao desenvolvimento dos projetos em Angola. “A nossa prioridade continua a assentar em projetos de exploração mesmo nestes tempos desafiantes”, sublinhou o presidente executivo da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira. O upstream (exploração de gás e petróleo) irá absorver cerca de 90% deste investimento.
A petrolífera realça que a ligeira redução no investimento anual “reflete uma prudência adicional da empresa face às alterações verificadas no mercado, nomeadamente de natureza operacional, que poderão condicionar o calendário de desenvolvimento dos projetos”. O nome do parceiro brasileiro da Galp não aparece no comunicado ao mercado, mas esta “prudência adicional” tem origem na travagem de alguns projetos liderados pela Petrobras, que é a principal parceira de exploração e produção da petrolífera portuguesa.
O efeito do maior escândalo de corrupção no Brasil não só afeta a maior empresa brasileira, mas tem uma reação em cadeia junto das empresas suas fornecedoras, que enfrentam graves dificuldades financeiras. Este quadro poderá atrasar o desenvolvimento de alguns projetos de exploração em águas profundas. A redução do investimento previsto a médio prazo tem por base a previsão de atraso médio de um ano no arranque dos novos projetos de produção. Carcará e Júpiter no Brasil, são campos cujo desenvolvimento vai demorar mais tempo. Os planos para exploração de gás natural em Moçambique também estão atrasados em relação ao calendário inicial.
Ferreira de Oliveira reconheceu já publicamente as dificuldades que estão a ser sentidas pela Petrobras no Brasil e admitiu que a petrolífera vai viver tempos desafiantes no curto prazo, mas mantém a convicção de que a empresa brasileira irá sair mais forte desta crise, porque o seu ponto forte é o capital humano.
Produção vai crescer 25% a 30%
Apesar da travagem no Brasil, a Galp prevê um crescimento anual médio de produção de petróleo e gás entre 25% e 30% no período de 2014 a 2020, “uma taxa ímpar no setor”, sublinha em comunicado. Em 2014, as reservas subiram 10% para 638 milhões de barris, em resultado do desenvolvimento nos campos Lula/Iracema e da decisão de avançar com o Bloco 32 em Angola.
Também a desvalorização do preço do petróleo terá um “efeito material” nos resultados da petrolífera já este ano e nos planos de investimento, mas a empresa antecipa que poderá recuperar na refinação parte da margem perdida na exploração e produção. Com o petróleo mais baixo, as margens de refinação da Galp tem estado a evoluir positivamente, tendo dado um contributo decisivo no último trimestre para os lucros de 2014.
A queda do preço do petróleo irá contudo afetar os resultados operacionais que em 2015 serão potencialmente inferiores aos registados no ano passado. A petrolífera prevê que os investimentos em exploração comecem a dar um retorno positivo (free cash flow), a partir de 2018, assumindo um cenário base de 80 dólares por barril.
O futuro da Galp, que é uma das mais internacionais empresas portuguesas, passa no essencial pelo Brasil, Moçambique e Angola. Portugal quase não aparece nos planos de investimento.
A Galp irá distribuir um dividendo de 0,3456 euros por ação, relativo aos resultados do ano passado. As ações da petrolífera estavam esta manhã a reagir em queda, com uma desvalorização de quase 7%.