O ano é histórico em aniversários de vitórias eleitorais e António Costa quer que fique na história por mais uma: as próximas eleições legislativas. Para isso, puxa o tom do discurso para dizer que esta maioria tem sido “indulgente com os erros próprios” e “implacável com as famílias” e por isso, espera que os portugueses sigam o exemplo de há 40 anos quando deram a vitória a Mário Soares. É que se nessa altura a vitória do PS foi importante para “travar o radicalismo”, não o é menos agora quando está em causa “aquilo que são os valores fundamentais da nossa vida em sociedade”.

No discurso de jantar nas jornadas parlamentares do partido, que se realizam em Vila Nova de Gaia, António Costa fez um discurso em que falou de radicalismos de direita e de insensibilidade social. Com as sondagens a mostrarem um empate técnico entre PS e maioria PSD/CDS, o líder socialista tenta vincar as diferenças. Para isso, socorre-se da história, dizendo que o PS teve um “papel decisivo para afirmar os valores da liberdade e democracia, para travar as tentações totalitárias, para resistir às derivas radicais”. E agora, a história repete-se:

“Mais uma vez temos de travar este radicalismo, agora de sinal contrário, mas que está mais uma vez a pôr em causa aquilo que são os valores fundamentais da nossa vida em sociedade. Não está a liberdade e a democracia em causa, é verdade, mas todos os dias vimos, ouvimos, deparamos com novas ofensas com esse valor fundamental que é a dignidade da pessoa humana”.

Na resenha histórica, além das eleições de 1975, António Costa lembrou ainda a vitória de há dez anos, quando o PS conseguiu a primeira maioria absoluta, sem referir o nome de José Sócrates, e de há 20, quando António Guterres foi eleito. Tudo porque o contraponto é a direita que agora é caracterizada com vários adjetivos. Referindo-se ao chumbo da maioria PSD/CDS à proposta do PS de suspender a penhora da casa de família por dívidas fiscais, Costa até fez uma passagem indireta pela polémica das contribuições para a Segurança Social de Passos Coelho: “Esta maioria, que é tão indulgente com os erros próprios, é implacável com o direito à habitação das famílias e não hesita que até a morada de família deve ser retirada às pessoas, porque a cegueira e a insensibilidade social é total”.

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É certo que o objetivo de António Costa é o de conseguir em outubro uma maioria absoluta, que tem sido uma miragem nas sondagens e para o conseguir, o secretário-geral apelou a que todos os socialistas se unam. Discursando em Matosinhos, e lembrando que por este concelho os socialistas não se entenderam nas últimas eleições autárquicas, António Costa pediu para que esta batalha seja “travada com todos os socialistas unidos”.

Rigor orçamental é igual a consciência social

Numas jornadas parlamentares em que o lema é crescimento económico e inclusão social. António Costa fez questão de querer contrariar a ideia que a direita governa bem e o PS governa mal. E aproveitou o exemplo de Vila Nova de Gaia – câmara que foi até às últimas eleições autárquicas presidida por Luís Filipe Menezes – dizendo que os socialistas “conseguiram compatibilizar o rigor na gestão financeira, com iniciativa na economia e economia social”, para fazer passar a ideia que “responder aos desafios da pobreza que são tão ou mais importantes do que termos as contas em dia”. E rematou: “Para nós não há uma alternativa entre o rigor e a consciência social. É em nome da consciência social que é necessário rigor porque toda a ação política tem de ser determinada por um valor fundamental: a dignidade da pessoa humana e esse é o valor primeiro e que tem de estar sempre presente”.

Para o fim, uma piada. É que depois de nas últimas semanas ter sido criticado na praça pública por dizer que o país estava diferente de 2011, num encontro com a comunidade chinesa, o secretário-geral do PS brincou com ele próprio. Afinal mais vale optar “por falar em português e ter aprendido que quando uma pessoa se quer fazer entender nunca deve falar em mandarim”, disse.