O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) estimou que o vírus do Ébola infetou uma em cada cinco crianças desde a sua eclosão em 2014, pelo que apelou para “uma ação urgente” visando estancar a epidemia.

Num relatório divulgado pela UNICEF sobre o impacto da doença nos três países da África Ocidental mais afetados – Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa -, a organização refere que “milhares de crianças foram infetadas, morreram ou ficaram órfãs por terem contraído o vírus do Ébola”.

“A taxa de mortalidade nas crianças com menos de cinco anos de idade é de 80%, o que significa que uma em cada cinco crianças nessa faixa etária infetadas morreu. Para as crianças menores de um ano de idade, as taxas de mortalidade estão acima dos 95%”, refere o documento, citado pela agência Lusa.

A ONU estima em aproximadamente 10 mil o número de pessoas que morreram devido à doença, desde janeiro de 2014, e afirma que o vírus “continua” a representar uma “ameaça à vida e o futuro das crianças, das famílias e comunidades” nos três países da África Ocidental considerados.

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“Dos 24 milhões de pessoas infetadas pela epidemia, cinco mil são crianças, sendo que, destas, 16 mil perderam um dos progenitores ou principal protetor”, assinala o documento.

No entanto, o número de casos semanais nos três países caiu para menos de 100 no final de janeiro desde ano, comparativamente aos cerca de 1.000 registados em setembro passado, adianta o relatório.

No passado dia 11 completaram-se mais de duas semanas sem que a Libéria registasse qualquer caso, mas este mês voltaram a aparecer casos na Serra Leoa e Guiné-Conacri, o que “demostra a necessidade de constante vigilância e de se tomar providências urgentes”, defende a UNICEF.

“O Ébola tem tido um impacto devastador sobre as crianças na Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa. Para proteger as crianças e as comunidades é fundamental derrotar este flagelo, enquanto se trabalha para restabelecer os serviços básicos”, defendeu a organização, que estima que as crianças representam “20 por cento” dos casos de infeção.

A Coordenadora de Emergência Global da UNICEF para Ébola, Barbara Bentein, considerou que “o surto não vai acabar até que não haja nenhum caso, e cada contacto único for rastreado e monitorado”.

“Não podemos dar ao luxo de ceder. Ao mesmo tempo, os serviços básicos precisam ser restabelecidos com segurança e responsabilidade”, disse Barbara Bentein, citada numa nota da UNICEF enviada à Lusa.

“Para muitos dos nove milhões de crianças que vivem em áreas afetadas, o Ébola foi aterrorizante. Estas crianças têm visto a morte e o sofrimento além de sua compreensão, e têm visto pessoas em trajes assustadores a remover corpos”, descreve o relatório.

O documento também aponta para o papel que as comunidades estão a jogar na busca de respostas visando eliminar a doença, ao mostrar “tendências encorajadoras de comportamentos seguros.

Exemplificando, o documento cita uma pesquisa na Libéria que indica que 72% dos inquiridos acreditam que qualquer pessoa com sintomas de Ébola poderá melhorar se tiver atendimento num centro de tratamento, “o que é significativo, porque muitos preferiam manter as vítimas do Ébola em casa espalhando a infeção na comunidade”.

Em resultado desta alteração comportamental, a agência da ONU assegura que milhares de crianças já estão imunizadas contra outras doenças mortais, como o sarampo, o que ajudou a minimizar o risco de infeções do Ébola quando as escolas reabriram meses depois de encerramentos que deixou cinco milhões de crianças fora da escola.