A democracia não é cura para todas as doenças do Estado e muito menos se deve limitar a um “jogo de eleições” em que os partidos estão “desesperados” em provar a legitimidade da sua credibilidade”, disse esta quinta-feira Xanana Gusmão.

“Queremos guiar as nossas pessoas para usar a democracia para discutir os problemas da nação e encontrar a melhor solução. Isso é democracia. Não é ganhar, ou deixar de ganhar e todas essas questões”, afirmou o ex-primeiro-ministro.

“Nós em Timor-Leste vamos tentar o nosso melhor para educar os jovens para entender qual é a substância da democracia. Não é apenas falar, criticar tudo e se pedirmos que nos apresentem uma alternativa, pedimos que participem, dizem que o seu papel é apenas de criticar”, disse ainda.

O ex-primeiro-ministro, e atual ministro do Planeamento, intervinha no segundo dia de um encontro internacional em Díli sobre o sistema eleitoral e democrático, organizada pela Comissão Nacional de Eleições, no âmbito do Asian Electoral Stakeholder Forum (AESF).

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Perante responsáveis eleitorais de vários países, Xanana Gusmão insistiu que o “jogo das eleições (…) não é tudo”, especialmente quando os partidos e grupos políticos se limitam “desesperados em poder provar a legitimidade da sua credibilidade”.

Timor-Leste “continuará a realizar eleições, claro”, e a depender dos resultados, disse, mas “isso não é tudo” pelo que o mais importante é “preparar a nova geração para não ter comportamentos de divisão”.

Considerando que Timor-Leste tem que avançar “mais lentamente”, Xanana Gusmão disse que não basta ganhar eleições, “como acontece na Europa, onde ganham eleições mas depois não têm dinheiro e não conseguem resolver tudo”.

“É melhor orientar a nova geração e intelectuais a olhar para a nação e não para os interesses dos partidos ou vencer eleições”, disse.

Um processo, disse, onde a sociedade civil também deve participar, sempre colocando o interesse da nação “acima de qualquer outro” que continua a dividir o país e a sociedade.

“Acredito que quando a sociedade civil começar a olhar, conscientemente e com responsabilidade para os interesses da nação, conseguirá trabalhar com as instituições do Estado, com outros setores, a olhar para o processo de desenvolvimento”, disse.

“Continuamos a enfrentar pobreza extrema, doença. Por isso temos que balançar tudo, responder a muitos, muitos, desafios que as nossas pessoas continuam a enfrentar. E acredito que só o podemos fazer com boa cooperação e em defesa dos interesses da nação”, disse.

Xanana Gusmão reiterou as suas preocupações com o facto de, em Timor-Leste, a “liberdade e democracia” estarem a ser usadas para “condenar pessoas sem provas”, inclusive através das redes sociais, que “estão a ter um papel destrutivo na sociedade” timorense.

E insistiu que a sua decisão de sair do cargo de primeiro-ministro e escolher um membro de outro partido para o suceder, pretendia demonstrar que a força da democracia “está na alternativa e não na alternância” do poder.

“A alternância de poder, pelas eleições, não resolve tudo. Temos é que ver como educar o nosso povo e a nossa sociedade para olhar para a necessidade de alternativa, não de alternância”, afirmou, numa frase praticamente idêntica à dita, no primeiro dia da conferência por Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin.