O documentário “Carlos do Carmo: Um homem no mundo”, realizado por Ivan Dias, estreia-se nas salas de cinema no dia 9 de abril, anunciou a distribuidora NOS.

Em comunicado, a distribuidora assinala que a estreia é o “culminar das celebrações dos 50 anos de carreira do fadista português”, distinguido em 2014 com um Grammy Latino de Carreira.

A estreia do documentário esteve prevista para o dia de Natal do ano passado, mas foi adiada por “questões levantadas pela Sociedade Portuguesa de Autores [SPA] sobre direitos autorais”, disse na ocasião à Lusa o representante da distribuidora cinematográfica NOS, Saul Rafael.

“Um homem no mundo” foi exibido no dia 21 de dezembro de 2014, às 18:00, como obra ainda não concluída, na homenagem ao fadista, no Cinema S. Jorge, em Lisboa.

Em dezembro passado, em declarações à Lusa, Carlos do Carmo, de 75 anos, afirmou que o realizador lhe quis oferecer este filme.

“O Ivan quis oferecer-me este filme. Há ano e meio ele disse-me: ‘Vou fazer o filme da sua vida’. Andou atrás de mim, foi a Toronto, a Madrid, ao Brasil, e foi filmando, filmando e fazendo uma retrospetiva, e fez este documentário que é muito cheio de afetividade – o que ele tem sobretudo é afetividade”, disse o fadista, que lembrou que o realizador “andou a bater de porta em porta”, para conseguir os necessários apoios financeiros.

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Ivan Dias, por seu turno, afirmou que “é um filme de afetos, de amizades, um filme de amor”.

“Eu diria que este é um filme de amor”, sublinhou o realizador que assinou também a produção de “Fados” (2007), de Carlos Saura, e que realizou, em 2014, um documentário sobre o viola baixo Joel Pina.

“Neste filme, e só para os amigos, Carlos do Carmo revela-se, o que me permitiu, como realizador, poder mostrar este mundo que ele não pôde mostrar ao grande público, e só mostrava aos amigos”, disse Ivan Dias.

Entre as descobertas deste filme, há uma gravação de “Carlos do Carmo aos 11 anos a cantar, com uma voz de cana rachada, baiões de Luiz Gonzaga, mas já com toda a ‘artistice’, e depois percebemos como esse rapaz vai estudar para a Suíça, volta para Portugal, o pai morre, ele fica com a gestão da casa de fados [o Faia] nas mãos – casa que tinha a grande Lucília do Carmo à frente -, e é uma sucessão de coisas que lhe aconteceram, que, de certeza, ele não teria pensado, nem os pais tinham pensado para a vida dele. Ele é levado quase pelo ADN para cantar o fado”, contou o cineasta.

Embaixador da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, Carlos do Carmo realçou à Lusa a importância deste tipo de documentários, que não foi possível fazer no passado.

“É indispensável, para a memória do futuro, para as pessoas saberem quem nós éramos, ao que andávamos, como era o nosso feitio, e depois têm os discos para ouvir”, rematou.

Numa entrevista à Lusa, o fadista contou que começou a ouvir fado ainda dentro do ventre da mãe, destacando também a importância das idas às verbenas para ouvir fados, acompanhado pelos pais, e “a escola que era O Faia, onde se ouvia muitos fadistas, designadamente Alfredo Marceneiro”, e a sua mãe, criadora de êxitos como “Maria Madalena” e “Foi na travessa da Palha”.

O seu primeiro disco foi editado pela Alvorada, em 1963, com o título “Mário Simões e o seu Quarteto apresentando Carlos do Carmo”, ao qual se seguiu, em 1964, “Carlos do Carmo com a Orquestra de Joaquim Luís Gomes”.

Ao longo da carreira somou mais de duas dezenas de álbuns, entre antologias, registos ao vivo e de estúdio, como o mais recente “Fado é amor”, em que partilha a interpretação com nomes como Mariza, Camané e Ricardo Ribeiro.