John Urschel é um guarda ofensivo nos Baltimore Ravens, uma equipa da NFL, a liga de futebol americano. A sua missão, entre setembro e janeiro, é proteger o quarterback e, além disso, como um bulldozer, arredar adversários e abrir caminho para quem vem a correr, de trás, com a bola. Nos restantes oito meses do ano, afasta-se dos touchdowns (a que o rugby chama ensaios) e dedica-se aos ensaios na Matemática. Acaba de publicar um artigo numa revista científica, o Journal of Computational Mathematics, mas diz-se “viciado” em placar pessoas, pelo que está ansioso que chegue setembro.

Pesa 137kg, distribuídos por mais de 1,90 metros de altura. Com 24 anos, é um dos guardas ofensivos mais promissores da NFL, na calha para substituir na equipa um dos melhores jogadores da liga nesta posição, Marshall Yanda, que caminha para a reforma. Na longa offseason da liga de futebol americano, que termina todos os anos no início de fevereiro com a Super Bowl e só recomeça em meados de setembro, John Urschel troca os seus colegas dos Baltimore Ravens por uma equipa presumivelmente menos imponente. Publicou neste mês de março, com Xiaozhe Hu, Jinchao Xu e Ludmil Zikatanov um artigo científico cujo título tem o mesmo número de palavras que o número de jogadores numa equipa de futebol americano (11): “Cascadic Multigrid Algorithm for Computing the Fiedler Vector of Graph Laplacians“.

“Sou um investigador em Matemática no meu tempo livre, fazendo pesquisa nas áreas da álgebra linear numérica, métodos multigrelha, Teoria espectral de grafos e aprendizagem automática”, escreveu John Urschel num artigo de opinião no The Player’s Tribune intitulado “Porque jogo futebol”. O artigo foi publicado na mesma semana em que um defesa dos San Francisco 49ers, Chris Borland, deixou o desporto com os mesmos 24 anos de John Urschel por receio de lesões encefálicas graves. Algo que, apesar da suavização das regras e das proteções corporais, continua a acontecer.

Urschel, que confessa já lhe terem chamado “idiota” por continuar a jogar futebol americano apesar de, como o próprio reconhece, já ter “mais dinheiro na conta bancária do que algum dia [saberá] o que fazer com ele”, não tem dúvidas que “jogar na NFL, sobretudo numa posição que envolve muito contacto físico, não pode de forma alguma ser bom para a saúde mental a longo prazo”. Se para a maioria dos atletas a NFL é um bilhete de lotaria para a fama e para a riqueza, Urschel admite que nem o facto de ter “uma carreira brilhante na Matemática” à sua espera o demove de continuar a jogar.

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“Eu jogo porque sou apaixonado pelo jogo. Adoro placar pessoas”, escreve John Urschel. “Há uma adrenalina que se sente quando se dá tudo o que se tem no campo e se tenta dominar, fisicamente, o adversário”, acrescenta o jogador dos Baltimore Ravens, que se diz “viciado” nesta “adrenalina”, que não encontra “igual em mais lado algum” e cuja falta o torna “uma pessoa pouco agradável para se conviver, e os meus amigos e família podem comprová-lo”.

É por isso que John Urschel conclui: “Em poucas palavras, neste momento, não jogar futebol simplesmente não é uma opção para mim”. “E, por essa razão, invejo verdadeiramente Chris Borland”, o linebacker dos 49ers que, por sinal, considerou que tinha outras opções. E conseguiu tomar outra opção que não aquela a que John Urschel não resiste, entre setembro e fevereiro.