A tradição do copo depois do trabalho, vulgarmente designada por anglicismos como after work ou happy hour ainda não está tão sedimentada em Lisboa e no Porto como no resto da Europa. Mas o panorama, felizmente, está a mudar. Há cada vez mais sítios apostados em introduzir paragens intermédias à rotineira migração pendular casa-trabalho-casa e, desta forma, vingar as perturbações de sono provocadas pela chegada ao horário de verão.

Na capital, para começar, têm surgido nos últimos tempos alguns espaços que se inspiram nos típicos pubs ingleses, ideais para celebrar o fim da jornada de trabalho. O Pub Lisboeta (Rua D.Pedro V, 63), no Príncipe Real, foi o primeiro do género. O espaço não abunda por isso é frequente ver a clientela espalhada pelo passeio contíguo à casa, que combina uma carta interessante de petiscos com boa cerveja. Segundo consta, há novidades na carta de cocktails. O The George (Rua do Crucifixo, 58), na Baixa, aberto há um par de meses, segue o mesmo conceito embora com muito mais espaço e variedade na bebida: há quase 300 referências disponíveis, entre vinho, cerveja e espirituosas. Para petiscar, entre opções mais ou menos substanciais, contam-se os nachos com guacamole, o fish and chips (com versões aportuguesadas da criação) ou as tradicionais tábuas de queijos e enchidos.

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O bem apetrechado balcão do The George. (André Correia / Observador ©)

Na taqueria mexicana Pistola y Corazón (Rua da Boavista, 16), no Cais do Sodré, combinam-se cocktails à base de tequilha e mezcal com tacos genuínos e picantes (ou não), recheados de diversas formas. Já no Pharmacia (Rua Marechal Saldanha, 1), umas ruas acima, em Santa Catarina, também se podem combinar em segurança os cocktails da casa — apesar de terem nome de remédio –, com os petiscos portugueses de Susana Felicidade: destaque para as cascas de batata e para os croquetes de presunto de porco preto. A esplanada, apesar de não se comer, também merece menção.

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Nisto do copo ao fim do dia, não falta também quem prefira terraços com vistas imponentes, e assim aproveitar as cores do crepúsculo para colocar uma fotografia, ou várias, nas costumeiras redes sociais. Cinco sugestões para o efeito:o magnífico Park (Calçada do Combro), um jardim suspenso no topo de um silo de estacionamento, sempre com uma seleção musical cuidada; o Clube Ferroviário (Rua de Santa Apolónia, 59), onde, recostado em antigos bancos de comboios, é possível avistar os cruzeiros que navegam no Tejo; o Rooftop Bar do Hotel Mundial (Praça do Martim Moniz, 2), que a juntar à vista fabulosa de 360º tem uma excelente sangria; o The Insólito (Rua de São Pedro de Alcântara, 83), onde a ementa criativa, que inclui um fabuloso carpato (carpaccio de pato fumado ao momento), torna quase obrigatório ficar para jantar; e, finalmente, o Sky Bar (Hotel Tivoli, Avenida da Liberdade 185), que apesar de ainda se encontrar na habitual pausa de inverno (só reabre a 17 de abril), será, provavelmente, o maior clássico do copo ao fim do dia em Lisboa. E, já dizia Mário Jardel, “clássico é clássico e vice-versa”.

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A vista do Park. Não está nada mal, não senhor. (Park/Facebook)

Com a recente febre cervejeira no seu ponto mais alto (e aplicações como o Untappd a ajudar à festa), também não serão de desdenhar sugestões como a Cerveteca (Praça das Flores, 62), onde a especialidade são as artesanais ou o mais recente LisBeer (Beco do Arco Escuro, 1), em Alfama, que salta essa fronteira para chegar às 250 referências.

Se, por outro lado, a preferência for vinho, a opção poderá/deverá recair no By The Wine (Rua das Flores, 41-43), a auto-intitulada flagship store da produtora José Maria da Fonseca em Lisboa, onde é possível comprar, beber, petiscar ou fazer tudo isso ao mesmo tempo. Ainda com o mesmo intuito, tanto o Chafariz do Vinho (Rua Mãe D’Água à Praça da Alegria), um espaço tão curioso como agradável, sempre com óptimas sugestões a copo, como a clássica Garrafeira Alfaia (Rua do Diário de Notícias, 125), no Bairro Alto, onde, com sorte, se pode assistir a uma sessão de brainstorming entre alguns dos melhores publicitários da cidade, clientes habituais da casa, são destinos válidos.

Finalmente, o Vestigius (Rua da Cintura do Porto de Lisboa, Armazém A 17) — e a respetiva esplanada — pode ser a solução ideal para os grupos que se dividem entre adeptos do vinho e do gin, já que a casa combina as duas vertentes, numa parceria com a Gin Lovers.

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Se o Vestigius estivesse mais próximo do rio arriscava-se a ser uma ilha. (Vestigius/Facebook)

Já no Porto, quando se fala em copo ao fim do dia, fala-se, obrigatoriamente, no Café Candelabro (Rua da Conceição, 3), um clássico da Baixa, constantemente cheio no final de cada jornada de trabalho. Arranjar lugar na esplanada não é fácil mas recomenda-se. Também numa esquina — ou num gaveto, se preferir — fica o Aduela (Rua das Oliveiras, 36). Tal como indica a placa à porta, por ali serve-se quase tudo, entre finos, copos de vinho e petiscos. A esplanada, inaugurada há cerca de um ano, aproveitando a renovação e o alargamento do passeio, é muito agradável. Não muito longe, pode encontrar-se o versátil Reitoria (Rua Sá de Noronha, 33), que junta à casa de bifes do piso de cima, uma zona térrea de delicatessen, com boas focaccias recheadas e charcutaria variada para acompanhar o vinho a copo, de preferência na zona exterior, que é bem castiça.

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A esplanada do Reitoria parece quase de uma propriedade privada. Mas não é. (Reitoria/Facebook)

Por falar em espaços versáteis, o Clérigos (Rua das Carmelitas, 151), inserido na estrutura (Passeio dos Clérigos) que liga a torre homónima ao edifício que abriga a mítica (e belíssima) livraria Lello & Irmão, também permite alcançar vários públicos, inclusive aqueles que queiram ficar para jantar num dos espaços que ali se concentram. De notar que no topo há um jardim com 50 oliveiras que serve de homenagem ao antigo Campo do Olival, uma extensa plantação de oliveiras nesta zona da cidade.

Ainda no campeonato dos espaços que primam pela oferta diversificada, destaque para o recente Food Corner (Rua do Ateneu Comercial, 8-14), aberto desde o final do ano passado, que reúne no mesmo edifício renovado hambúrgueres com o selo de qualidade Munchie, cachorros, petiscos, pizzas e sushi. Tudo isto, claro, para acompanhar as bebidas servidas no bar. A esplanada é um bónus agradável.

Atravessando os Aliados em direção ao Túnel de Ceuta, instalado no célebre muro da Praça Filipa de Lencastre, encontra-se o RADIO (Praça Dona Filipa de Lencastre, 178), cujo jardim será uma mais-valia ainda maior quando os dias juntarem a longevidade recém-adquirida ao calor.

Descendo em direção à Ribeira, paragem obrigatória na Mercearia das Flores (Rua das Flores, 110), na renovada (e exclusivamente pedonal) rua com o mesmo nome. É dos poucos locais no país que consegue unir com verdadeiro sucesso o conceito de mercearia e bar, com uma pequena esplanada a contribuir para tal. Já na Ribeira, o Peter Café Sport (Cais da Ribeira, 24/25) pode não ter o estatuto ou o misticismo da casa-mãe açoriana, na Horta, mas é um dos melhores sítios no Porto para beber um bom gin tónico sem ter de empenhar as jóias da família para isso.

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Apesar do logo, daqui não se avistam baleias, só os barcos do Douro. E já não é mau. (Peter Café / Facebook)

Finalmente, e para acabar o roteiro, mais duas opções a Oeste, defronte do mar. O Bar Tolo (Rua Senhora da Luz, 185), que vale pelo terraço instalado num edifício histórico da Foz, onde se pode petiscar e aproveitar a vista marítima e o Bonaparte (Avenida do Brasil, 130), um pub quase quarentão de onde também se avista o mar e onde a happy hour entre as 17h00 e as 21h00 é tradição tão certa como o São João.