O Presidente da República e o primeiro-ministro também já reagiram à morte do cineasta Manoel de Oliveira, que morreu esta quinta-feira aos 106 anos. Tanto Cavaco Silva como Passos Coelho manifestaram o seu “profundo pesar” por uma das “figuras maiores” da cultura portuguesa. É um o “momento de luto para a cultura portuguesa”.

Numa declaração pública a partir de Belém, o Presidente da República elogiou a sua “qualidade artística internacionalmente reconhecida”, que ficará “para sempre” como testemunho “inconfundível” da cultura portuguesa. Cavaco lembrou uma visita que fez à Alemanha, em 2008, no âmbito das comemorações do centenário do cineasta, onde pôde constatar de perto “o seu prestígio além-fronteiras”.

“Um cineasta maior”, para Cavaco Silva, Manoel de Oliveira foi, até ao fim da vida, um “exemplo para as novas gerações”. E por isso destacou que a cultura portuguesa vive um “momento de luto” e apresentou as “mais sinceras condolências à família”. Cavaco e a mulher visitaram o cineasta antes do último Natal.

Também o gabinete de Pedro Passos Coelho fez chegar uma nota escrita, onde, “em seu nome pessoal e em nome do Governo”, expressa “pesar” pela morte do cineasta e nota que Portugal perdeu uma das suas figuras “maiores”.

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“Manoel de Oliveira é a figura decisiva do cinema português no século XX. A sua capacidade de criação de novas linguagens cinematográficas e a sua paixão pela sétima arte projetaram Portugal no Mundo”, lê-se na nota, onde o primeiro-ministro acrescenta que o cineasta foi “obreiro da afirmação central da cinematografia portuguesa a nível internacional”.

Apresentando condolências à família, Passos destaca ainda a forma como Manoel de Oliveira irá continuar a “influenciar gerações”, especialmente no mundo do cinema. “O património cinematográfico de décadas de trabalho laborioso que nos deixa é hoje património de nós todos”, lê-se.

Também o vice-primeiro-ministro Paulo Portas enviou uma nota de condolências onde diz que Manoel de Oliveira é um “exemplo, na arte e na vida, de longanimidade: o fruto do espírito de quem tem grandeza de ânimo. Portanto, algo ainda maior do que a longevidade”. No texto enviado às redações, o presidente do CDS lembra que Manoel de Oliveira morreu na semana santa e por isso deixa palavras de Padre António Vieira.

“Realizador, criador e criatura – são palavras suas -, de um Portugal permanente e inesperado, morreu na Semana Santa. Por isso relembro um sermão de Padre António Vieira, cujo génio inspirou Manoel de Oliveira em palavras e utopias: ‘Mortal até o pó, mas depois do pó, imortal'”.

 Porto três dias de luto

O presidente da Câmara do Porto decretou três dias de luto municipal. Em conferência de imprensa, Rui Moreira disse que “esta é a forma mais institucional de demonstrar o profundo pesar de uma cidade e de transmitir ao mundo o sentimento de perda coletiva que hoje nos assolou.”

Rui Moreira destacou o caráter singular de Manoel de Oliveira – “Manoel de Oliveira não foi – não é – um homem vulgar” – e a ligação do realizador à cidade – “Só com um carácter invulgar é possível olhar o mundo e, logo, olhar o Porto, com os olhos, as lentes e o sentido crítico com que Manoel de Oliveira olhou a vida e tudo o que o rodeou – rodeia.”

“Sempre que revirmos o Aniki Bobó ou qualquer outro que compõem a sua longa e rica cinematografia, estaremos a homenagear a sua arte e sua recusa em ser vulgar e até a sua recusa a morrer.”

Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto

O autarca anunciou que a cidade vai promover mais uma homenagem a Manoel de Oliveira “exibindo de novo muitos dos seus filmes, em termos e data que o pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto oportunamente anunciará.”

 Reações políticas

Assim que se soube da morte do cineasta Manoel de Oliveira, as reações no Parlamento não se fizeram esperar. Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República, manifestou uma “profunda tristeza pela morte de Manoel de Oliveira” e destacou o caráter “sublime da sua arte”, que “libertava na sua infinita perfeição”. “Manoel de Oliveira deixa-nos o sublime da sua arte, uma arte que a todos nos libertava na sua infinita perfeição. Como se o cinema que criou, por todos reconhecido, fosse a memória da nossa própria transcendência e o exemplo para a projetarmos nas coisas que fazemos”, referiu Assunção Esteves, numa mensagem de condolências enviada à imprensa.

O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, afirmou que a morte do cineasta Manoel de Oliveira é “uma grande perda para Portugal”. A sua obra “permanecerá imortalizada” e será “eterna no coração” dos portugueses. “Trata-se de uma grande perda para Portugal, de uma figura ímpar da cultura portuguesa e da cultura mundial, com um percurso reconhecido quer no plano nacional quer no plano internacional, que deixa a cultura portuguesa mais pobre”, afirmou Montenegro, aos jornalistas, no parlamento. Para o presidente da bancada social-democrata trata-se também de “uma oportunidade para evocar um percurso muito longo de trabalho, de trabalho em função do sentir e viver português”. “Estamos convencidos que ele hoje partiu, mas a sua obra permanecerá imortalizada para todo o sempre e será eterna no coração e no pulsar da vida dos portugueses”, declarou.

Uma obra tão imortal como o próprio Manoel de Oliveira. “Julgo que de alguma forma todos nos convencemos que Manoel de Oliveira era imortal, e, apesar da sua idade, esta notícia não deixa de nos chegar como uma tristíssima surpresa. Mas Manoel de Oliveira é imortal, a sua obra vai perdurar para sempre”, disse Teresa Caeiro, deputada e dirigente do CDS-PP. “Devemos sentir um grande pesar, uma grande pena, mas um grande orgulho na sua obra, orgulho relativamente à obra e ao legado de um português como nós”, disse Teresa Caeiro. A deputada falou num percurso “prestigiadíssimo” e que o nome de Oliveira “ficará inscrito na história da cultura, não só portuguesa mas internacional” e “na história do cinema”. “Quase apostaria que até anteontem estaria a preparar mais um filme”, disse Teresa Caeiro. Que apontou ainda a “espantosa a vivacidade e a capacidade que Manoel de Oliveira teve para trabalhar, para se reinventar, até às vésperas da sua morte”.

A vice-presidente da bancada socialista Inês de Medeiros considerou que Manoel de Oliveira foi um exemplo de luta em defesa da liberdade criativa e sustentou que Portugal e os artistas portugueses lhe devem muito. “Manoel de Oliveira foi um dos mais extraordinários artistas, mas importa também recordar a pessoa que era, a sua luta intransigente pela liberdade criativa, a sua resistência a todos os anos em que não pôde filmar, a forma delicada como sempre resistiu, não cedeu e defendeu aquilo que entendeu que devia ser a sua arte.” Este é um momento para recordar a pessoa de Manoel de Oliveira”, o seu “talento, a generosidade, a intransigência, a defesa da arte, a defesa dos princípios e a defesa da liberdade”.