Às vezes, quando a sinceridade parece ser tanta, desconfia-se, e as palavras de Carlo Ancelotti puseram-se a jeito. “É uma honra jogar contra Diego Simeone, um dos melhores treinadores do mundo”, disse, embora, logo depois, aí sim abusando da honestidade, admitiu que “também é um problema” partilhar um relvado com o argentino que usa o coração no pulso e toma conta do Atlético de Madrid. Percebe-se bem porquê — desde que os rivais inventaram um dérbi de Madrid para a última final da Liga do Campeões, decidida em Lisboa, não mais o Real conseguiu ganhar uma partida aos colchoneros. Seis encontros, quatro vitórias e 12 golos marcados para o Atlético contra apenas quatro dos merengues.
Não está fácil para o Real Madrid, nada mesmo. A equipa apenas marcou quatro golos ao Atlético que há três épocas e meia Simeone ensina a bem defender — em jogos europeus, aliás, os colchoneros não sofrem um golo em casa há mais de um ano, desde que Kaká, então do AC Milan (e um ex-Real), rematou uma bola que acabou dentro da baliza. Até Cristiano Ronaldo, o papão do costume que vai com 49 golos marcados, só conseguiu marcar duas vezes esta temporada ao Atlético, apesar de ter 15 golos em 20 dérbis madrilenos.
Mas a equipa “não está obcecada”, garante Ancelotti, com o adversário contra o qual não vence há 11 meses. Mesmo que o Atlético, nos últimos 21 remates que bateu à baliza de Iker Casillas ou Keylor Navas, os homens que já guardaram as redes do Real Madrid, tenha marcado 11 golos. É obra e já lhe valeu em 2014/2015 a conquista da Super Taça de Espanha e uma ultrapassagem aos merengues na Copa do Rey. E quis o sorteio que voltassem a colidir nestes quartos-de-final da Liga dos Campeões.
Diego Simeone bem disse que “não se podem escolher os rivais”, reconhecendo que o Real Madrid tem “jogadores mais dotados tecnicamente em várias posições”. Mas não é só o jeito para tocar na bola com os pés que decide jogos e o Atlético já o provou, várias vezes. E mesmo que também ele admita que “é um orgulho jogar contra como Carlo Ancelotti, pelo qual [tem] grande admiração como pessoa” e em quem vê “um treinador muito capaz”, é provável que o argentino volte a tornar a vida dos merengues num inferno. É provável: a primeira mão dos quartos-de-final joga-se esta terça-feira (19h45) no Estádio Vicente Calderón, que fervilha em lume alto a cada dérbi que por lá passa.