As apresentações foram feitas por ocasião da exposição Tradição no Momento, em 2013. De um lado Célia Esteves, designer de 33 anos a viver no Porto e a trabalhar em técnicas de impressão. Do outro Cláudia Vilas Boas, tecedeira desde os 15 em Viana do Castelo. A ideia era pegar em artesãos locais e juntá-los a jovens artistas, para ver o que saía. Inspirada por um tear que a mãe tinha em casa e com que brincava em miúda, Célia escolheu Cláudia. Juntas fizeram um tapete com os olhos bem abertos, e de repente a designer viu que tinha ali um projeto a que dar corpo.
“A ideia da exposição era fomentar a ligação entre novos artistas e velhas técnicas, e eu gostei tanto do processo todo que quis partilhar a experiência”, conta Célia. Depois de ser ela própria a desenhar o padrão a sair do tear, passou a caneta ao próximo e convidou três ilustradores — José Cardoso, João Drumond e Aitor Saraiba — a fazerem um tapete. Ao mesmo tempo, criou a marca GUR. “O nome é uma brincadeira com a palavra rug (tapete) ao contrário”, explica a designer, “porque a ideia sempre foi essa: transformar um tapete tradicional numa peça nova, com outra abordagem.”
Mais de 50 tapetes depois, e com um catálogo que se assemelha mais a uma galeria de arte do que a uma loja de artigos de decoração, com nomes como André da Loba, Júlio Dolbeth e Catarina Carreiras entre os convidados, cada edição continua a ter uma ligação muito forte com ilustradores e a ser feita à mão pela tecedeira de Viana do Castelo. “Comecei por convidar artistas por proximidade ou até por serem referências minhas”, diz Célia. “Tenho uma ligação com a galeria de ilustração Dama Aflita, no Porto, e isso facilitou o processo, mas o que tem vindo a acontecer cada vez mais é que há pessoas que entram em contacto comigo para fazermos um tapete.” Há também coleções dedicadas a artistas, como a que homenageou o modernista Sebastião Rodrigues, e que neste caso são desenhadas por Célia.
Todas as edições são limitadas, mas a produção inicial de 50 exemplares de cada passou entretanto para os 80, “porque começou a haver mais procura”. Com um site todo em inglês, uma loja online montada na Etsy, pontos de venda em Lisboa e no Porto mas também em Londres e Barcelona, Célia e Cláudia têm mostrado ter um toque de génio da lâmpada porque os tapetes têm voado de Viana do Castelo para outras partes do mundo. “Eu achei que a marca ia ser um sucesso em Portugal, porque temos uma relação com os tapetes de trapos, por exemplo, mas a verdade é que corre melhor lá fora”, diz a designer “As pessoas aqui gostam dos tapetes e têm reações muito boas, mas acho que existe falta de poder de compra, e acabo por vender muito mais para o estrangeiro.”
Os preços vão dos 50 aos 100 euros, mas a verdade é que os tapetes da GUR são mais para pendurar na parede do que para pôr os pés enquanto se lava a louça na cozinha. “Isso tem piada porque não só ajudou a fazer renascer o hábito de pendurar tapetes, mas porque eu sempre os vi quase como uma serigrafia”, diz Célia, que nem de propósito inaugurou, há duas semanas, um atelier deste método de impressão, o Laika a Print. “Digo isto porque nenhum tapete é igual ao outro, como as serigrafias, são todos feitos à mão, com artistas, e todos de edição limitada”, resume a designer.
Com a GUR os tapetes levaram mesmo uma volta, só não vale pendurá-los do avesso, porque seria uma pena.
Nome: GUR
Data: 2013
Pontos de venda: Loja online na Etsy, Dama Aflita (Porto), Mercado 48 (Porto) e Fábrica Features (Lisboa)
Preços: 50€-100€
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