O administrador do Grupo Lena Joaquim Barroca foi detido quarta-feira à noite, depois de buscas realizadas à sede do grupo, em Quinta da Sardinha, no concelho de Leiria, disse à Lusa fonte ligada ao processo. Terão sido feitas igualmente buscas à sua casa.
Segundo a mesma fonte, Joaquim Barroca foi detido no âmbito da ‘Operação Marquês’, que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates e vai ser hoje presente ao juiz Carlos Alexandre.
Nas buscas terão participado o procurador Rosário Teixeira e o juiz Carlos Alexandre.
Num computador apreendido a Barroca constarão vários dados bancários sobre como circulava o dinheiro entre o Grupo Lena, Carlos Santos Silva e José Sócrates. Estes dados de transferências bancárias, não só em Portugal como no estrangeiro, serão considerados fundamentais para a investigação. Segundo fontes próximas do processo, tratam-se de provas que permitem cruzar os montantes transferidos para Santos Silva, ex-administrador do grupo, com os valores que depois o empresário amigo de José Sócrates emprestava ao ex-primeiro-ministro.
Estradas, escolas e encontros na mira da Justiça
Em março, o Diário de Notícias escrevia já que Joaquim Barroca era suspeito de ser autor de várias transferências feitas para as contas bancárias suíças de Carlos Santos Silva, amigo de José Sócrates.
Os investigadores da Operação Marquês terão, segundo o jornal, identificado o empresário através da análise dos dados bancários fornecidos pelas autoridades suíças. Estas permitiram ao procurador Jorge Rosário Teixeira identificar, não só a origem do dinheiro, como também o período em que as transferências foram feitas, que corresponde aos anos de 2007 a 2009, durante os mandados de José Sócrates como primeiro-ministro.
Esta quinta-feira, o Correio da Manhã escreve que a investigação entrou numa nova fase, “nos quais o empresário tenha funcionado como corruptor ativo” noutros negócios, neste caso não envolvendo Sócrates mas outros políticos. Segundo o CM, estão a ser investigados contratos de Parcerias Público-Privadas que envolveram o Grupo Lena. A mesma notícia lembra que, num outro processo relacionado com PPP, o DCIAP já fez buscas às residências de dois ex-governantes socialistas: Paulo Campos e Mário Lino.
A primeira notícia sobre o alargamento da investigação foi dada pelo jornal i, também em março, falando na altura de inquéritos abertos às parcerias público-privadas rodoviárias e à Parque Escolar.
O grupo Lena, empresa de construção civil, foi (em consórcio com as construtoras Abrantina e Manuel Rodrigues Gouveia) a principal beneficiada nas obras da Parque Escolar, com as quais arrecadou cerca de 137 milhões de euros. As obras realizadas em várias escolas públicas nas zonas de Portalegre, Felgueiras, Lisboa e Marina Grande, representam quase dois terços dos contratos conseguidos pelo grupo Lena.
A Lena integrou também o consórcio liderado pela Brisa que venceu a concessão do Baixo Tejo, uma das oito PPP Rodoviárias lançadas por José Sócrates. Estas estão atualmente a ser investigadas pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
O grupo de Leiria participou ainda no agrupamento que venceu a concessão Litoral Oeste, que corresponde às zonas de Leiria, Batalha, Tomar e Alcobaça. De acordo com uma auditoria do Tribunal de Contas, esta foi a PPP que mais lucro gerou às construtoras (13,1%, mais 3% do que a média das restantes PPP).
O grupo Lena está a ser investigado devido à ligação com Santos Silva, que terá recebido altas quantias em troca de alegados favorecimentos em negócios. De acordo com o i, um dos indícios recolhidos pelos investigadores diz respeito ao encontro entre José Sócrates e o vice-presidente angolano, que terá sido organizado pelo embaixador de Portugal em Nova Iorque, Álvaro Mendonça e Moura. Segundo o jornal, o encontro teve como objetivo pedir favores para o grupo Lena.
Antes da reunião, segundo o jornal i, terá existido uma conversa telefónica, que foi intercetada pelas escutas da Operação Marquês, e com a qual Sócrates terá sido confrontado durante o interrogatório que antecedeu a sua prisão preventiva, a 24 de novembro.
A construtora de Leiria tem negado repetidamente ter pago qualquer valor a Santos Silva ou a José Sócrates em troca de favores. O grupo admitiu apenas ter pago cerca de 3,2 milhões de euros a várias empresas detidas por Santos Silva por serviços prestados, entre 2005 e 2010.
* As buscas referidas a Paulo Campos e Mário Lino referem-se a uma outra investigação sobre PPP, que corre aparte no DCIAP – e não no âmbito da Operação Marquês, como se podia inferir na versão anterior desta notícia.