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Quatro gráficos para entender como fala o mundo

Este artigo tem mais de 5 anos

Existem 7,2 mil milhões de pessoas e mais de sete mil línguas nativas. Mas como é que estas estão distribuídas? E qual é a língua mais falada?

Existem cerca de sete mil línguas no mundo
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Existem cerca de sete mil línguas no mundo

Ilustração: Milton Cappelletti

Existem cerca de sete mil línguas no mundo

Ilustração: Milton Cappelletti

Estima-se que existam entre seis e sete mil línguas vivas no mundo, faladas pelos seus 7,2 milhões de habitantes.

A maioria delas é falada no continente asiático onde, de acordo com o Ethnologue, existem 2.301 línguas diferentes, que incluem o hindi e o árabe. Este número, para além das línguas oficiais de cada país, inclui ainda vários dialetos locais, isto é, sistemas linguísticos próprios de uma determinada região.

O gráfico mostra que, em comparação com a Ásia, a Europa fica muito atrás em termos de línguas vivas. No continente europeu existem apenas 286. O que significa quase menos 800 do que nas Américas.

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É também na Ásia que existe o maior número de falantes nativos. De acordo com um estudo da autoria de Ulrich Ammon, da Universidade de Düsseldorf, existem 1,39 mil milhões falantes de chinês (incluindo dialetos). A seguir ao chinês, as línguas mais faladas são o hindi e o urdu, duas línguas indo-iranianas originárias do norte da Índia, e o árabe, com 467 milhões de falantes, mais 100 milhões do que o espanhol.

Na lista das 12 línguas mais faladas, o português surge em oitavo lugar, com 193 milhões de falantes nativos. O número pode parecer bastante inferior à maioria das estimativas, que costumam colocar Portugal muito acima na tabela. Porém, é importante lembrar que os dados recolhidos por Ammom dizem apenas respeito aos falantes nativos, ou seja, àqueles que tem o português como língua materna.

Apesar de as línguas asiáticas serem as que têm o maior número de falantes nativos, o inglês continua a ser a língua mais falada mundialmente. Segundo o Ethnologue, o inglês é falado em 101 países diferentes, que incluem as antigas colónias britânicas como os Estados Unidos da América ou a Austrália. A língua é também oficial em 35 países diferentes, como os Camarões ou as Ilhas Fiji.

O grande número de falantes de inglês deve-se também à sua popularidade. Segundo Ammom, existem 1,5 mil milhões estudantes de inglês, o que significa que é a língua mais estudada no mundo inteiro.

Apesar da aparente diversidade linguística, a verdade é que existem cada vez menos línguas vivas. Muitos dialetos locais estão em vias de extinção e, de acordo com a UNESCO, cerca de metade das línguas que existem no mundo irão desaparecer até ao final do século.

No que diz respeito à Europa, o Atlas das línguas mundiais da UNESCO refere que são pelo menos 100 as línguas que podem estar em risco de desaparecer. A Rússia é o país que contém mais línguas em perigo, com 131 à beira da extinção. Desse número, 29 correm grande risco e 22 estão mesmo à beira da extinção.

As 22 línguas em vias de extinção incluem vários dialetos locais, como o mansi oriental ou a língua dos enets. O mansi é um dialeto falado na região oeste da Sibéria, que é atravessada pelo rio Konda. Não se conhece o número exato de falantes, mas acredita-se que esteja à beira de desaparecer. Por outro lado, acredita-se que a língua dos enets, uma população da zona de Krasnoyarsk-Krai, perto do rio Yenisei, seja falada apenas por 10 habitantes, de acordo com uma estimativa feita em 2005.

Outras línguas europeias que apresentam também uma posição vulnerável são o bretão, o iídiche e o lapão. O bretão é uma língua de origem celta, parente do galês, falada na Grã-Bretanha, enquanto o iídiche é uma língua germânica falada pelas comunidades judaicas da Europa Central e Ocidental. O lapão, por outro lado, é o nome dado a um conjunto de línguas faladas no norte da Europa, nas regiões da Noruega, Suécia, Finlândia e noroeste da Europa.

A título de curiosidade, existem dialetos em risco de extinção em Portugal com movimentos que os pretendem preservar, entre eles o mirandês, o barranquenho e o minderico.

As causas são várias. Entre estas incluem-se a concentração em grandes cidades, os movimentos migratórios e a pressão para usar outras línguas por motivos políticos e sócio-económicos. Porém, uma coisa parece ser certa — a perda da diversidade linguística tem um impacto negativo no património cultural.

Para Sarah Sheil e Magdalena Pasikowska-Shnass, do Serviço de Investigação do Parlamento Europeu, esta é uma realidade que pode por em causa a diversidade cultural europeia e potenciar uma perda do conhecimento e do património cultural. Segundo alguns estudos recentes, a diminuição do número de línguas pode mesmo ter um impacto negativo na conservação da biodiversidade.

Segundo a UNESCO, existe uma ligação fundamental entre a língua e o conhecimento tradicional. Muitas comunidades locais e indígenas criaram um sistema de classificação complexo do mundo natural, que reflete o seu próprio entendimento do meio envolvente. Este conhecimento está enraizado no vocabulário e nas tradições orais da comunidade, que se podem perder com o desaparecimento da língua.

Apesar de a preservação da diversidade linguística ser da responsabilidade dos governos, a União Europeia (UE) tem tomado algumas medidas no sentido de apoiar os dialetos ou as línguas minoritárias. Exemplo disso é o Artigo n.º 3 do TEU, onde é referido a obrigação de respeitar a diversidade linguística na UE.

Contudo, organismos como a Foundation for Endangered Languages e a Civil Society Platform on Multilingualism defendem que a União Europeia deveria ter um papel mais ativo na preservação das línguas em risco. Algumas recomendações incluem a criação de um plano de ação com disposições especiais para as línguas em perigo e um orçamento para a sua preservação. Algumas organizações defendem ainda um maior apoio na área da investigação e do ensino.

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