Quis a sorte que o ainda feriado 1 de maio (Dia do Trabalhador) se colasse a um fim de semana, permitindo um descanso de três dias para quem mais precisa. São 72 horas para descontrair e, já agora, ouvir as várias publicações que têm destacado Portugal enquanto destino de férias e seguir o slogan “vá para fora cá dentro”, tão em voga. Em jeito de proposta, deixamos seis hotéis que são parte integrante da história nacional — dos que foram mandados construir por reis aos já eternizados nas páginas da literatura.
1. Palácio do Ramalhete
Visto da rua é mais um prédio na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa. Mas a fachada — tal como a boa capa de um livro — esconde a verdadeira essência daquele que é um exemplo da arquitetura portuguesa do século XVIII. A CNN diz que o hotel “grita autenticidade lisboeta” e descreve-o como um lugar onde os amantes da literatura prestam homenagem à obra Os Maias de Eça de Queirós, já que este poderá ter sido o Ramalhete descrito no livro. E, verdade seja dita, o tempo não roubou o edifício das suas características originais, das quais os azulejos pombalinos são um bom exemplo. Os 12 quartos (suítes incluídas) são todos diferentes uns dos outros, com um deles a ocupar o que em tempos foi a cozinha da casa — o chão em pedra e a lareira encostada a um canto ainda estão por lá. O boutique hotel, que em novembro foi considerado pelo britânico The Times um dos 20 mais sexy da Europa, está numa zona calma da cidade, pelo que não é a escolha certa se o objetivo forem saídas regulares para andar de sacos na mão. É, ao invés, a opção para um descanso junto à piscina exterior, num jardim longe de olhares alheios.
Rua das Janelas Verdes, 92, Lisboa. 213 931 380 / 213 900 359. A partir de 158,40 euros por noite em quarto duplo.
2. Lawrence’s Hotel
Diz-se o hotel mais antigo na Península Ibérica e a data pouco redonda confirma-o — uma pesquisa rápida no Google e o número 1764 salta rapidamente à vista. À semelhança do Ramalhete que virou hotel, o Lawrence’s tem também um toque queirosiano e já albergou muitos escritores. Talvez por isso não tenha números nas portas dos 11 quartos e seis suítes, antes nomes de hóspedes famosos (Lord Byron, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz ou Ramalho Ortigão). Situado em Sintra, primeira “paisagem cultural” a ser inscrita como Património Mundial, foi multicultural desde o começo e chegou a ser uma hospedaria inglesa. Depois de um intervalo de mais de 30 anos, em 1999, mesmo antes do virar do século, reabriu completamente renovado. Mas a modernidade exigida não prejudicou nem a fachada original nem o ambiente romântico.
Rua Consiglieri Pedroso 38, Sintra. 219 105 500. A partir de 155 euros por noite em quarto duplo.
3. Vidago Palace Hotel
Nenhum rei português ficou hospedado no hotel, mas foi a realeza que o fez nascer. Já as propriedades terapêuticas da água da região eram conhecidas e apreciadas pela sociedade quando D. Carlos I o manda construir — o Vidago Palace serviria para acomodar turistas, é certo, mas também a família de “sangue azul”. O assassinato do rei em 1908 e a revolução que entretanto ganhou forma abrandaram as ambições régias, mas não as travaram, e o hotel viria a abrir as portas em outubro de 1910, definindo-se como um poiso para a aristocracia portuguesa e europeia. Cem anos depois da inauguração, o Vidago Palace renovou-se e trouxe consigo, entre outras valências, um spa termal com a assinatura de Álvaro Siza Vieira e um segundo ponto de encontro para os amantes do golfe (além do campo já existente), agora no Club House, edifício de 1886 onde se fez o primeiro engarrafamento da água Vidago.
Parque de Vidago, Apartado 16, Vidago. 276 990 920 / 276 990 912. A partir de 251 euros por noite em quarto duplo.
4. Curia Palace Hotel
História é coisa que não lhe falta e o hotel não foi construído há tanto tempo quanto isso (1921). Moldado ao gosto frenético dos chamados “dourados anos 20”, e rodeado por vinhas bairradinas, recebeu jantares de gala, festas das vindimas, peças de teatro, saraus de poesia, noites de bailado e ainda concursos vários. A própria piscina de Arte Nova, em formato transatlântico e inaugurada em 1934, serviu de propósito para competições oficiais — foi a segunda piscina olímpica de Portugal e é, atualmente, a mais antiga em todo o país em funcionamento, pelo que não há desculpas para não ir a banhos. Foi ainda ao serviço do cinema que o hotel ficou debaixo dos holofotes da fama, quando recebeu a atriz portuguesa Beatriz Costa para as filmagens do filme O Trevo de Quatro Folhas. Feitas as cenas e desligadas as câmaras, o edifício continua a exibir o charme de outros tempos, com salões de grandes dimensões dignos de um baile e traços de uma arquitetura também ela “dourada”.
Avenida Plátanos, Tamengos, Anadia. 231 510 300. A partir de 97 euros por noite em quarto duplo.
5. Bussaco Palace Hotel
É apontado por muitos como um delírio arquitetónico e tem a assinatura do italiano Luigi Manini, cenógrafo do Teatro Nacional de São Carlos. O antigo pavilhão real de caça — também ele mandado construir por D. Carlos I, entre 1888 e 1907 — assemelha-se a um palácio extraído de um qualquer conto de fadas. No seu interior, os olhos facilmente passeiam pelas inúmeras obras de artes que o decoram, mas também pela escadaria nobre — a imaginação sobrepõem-se à realidade porque é assim tão fácil visualizar uma princesa a segurar as saias de um longo vestido enquanto, degrau a degrau, se aproxima do nosso campo de visão. A adoçar a veia criativa está ainda a sala de jantar, outrora cenário de importantes banquetes reais. O hotel encontra-se rodeado pela densa Mata Nacional do Bussaco que, além de árvores, acolhe fontes, capelas, ermidas e miradouros. O cenário em redor é um convite a demorados passeios que podem ser premiados pelos vinhos da garrafeira própria do Bussaco Palace.
Mata do Bussaco, Luso. 231 937 970 / 969 524 526. A partir de 147 euros por noite em quarto duplo.
6. Freixo Palace Hotel
Instalada nas margens do rio Douro e inaugurada em outubro de 2009, é a primeira (e até agora a única) Pousada de Portugal na Invicta. Mas a história do edifício começa muitos anos antes: o palácio foi construído em 1742, um projeto da autoria do conhecido arquiteto Nicolau Nasoni, autor da Torre dos Clérigos. A pousada que existe há cerca de cinco anos resultou, então, de uma junção curiosa entre o palácio de estilo barroco, onde fica o restaurante, bar, salas de estar e salas de reuniões, e a antiga fábrica de moagem que ali se instalou nas décadas de 1950 e 1960, e que agora acolhe os 87 quartos existentes. Atualmente, as fachadas de ambos os edifícios permanecem intactas, sendo que no exterior há 4 mil metros quadrados de jardim, com piscina e um deck privativo sobre o rio que banha a cidade. Para a Condé Nast Traveller este é um dos hotéis acessíveis e chiques da Europa e, em 2012, a pousada foi incluída num roteiro do New York Times como um dos locais de passagem obrigatória no continente europeu.
Estrada Nacional 108, Campanhã, Porto. 225 301 151. A partir de 311 euros por noite em quarto duplo.