A greve dos trabalhadores dos super e hipermercados teve a adesão de “muitos milhares de trabalhadores” no país, revelou esta sexta-feira o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), sem precisar a percentagem de adesão. No entanto, as lojas continuam abertas. E para atrair clientes preparam promoções especiais.

“Dos dados que é possível recolher, observa-se que muitos milhares de trabalhadores não se apresentaram ao trabalho, apesar das pressões, chantagens e também aliciantes oferecidos para furarem a greve”, refere o sindicato, numa nota, citada pela Lusa.

O sindicato lembrou que a greve nos super e hipermercados, armazéns e lojas especializadas foi decretada para “tornar público o descontentamento generalizado com as condições de trabalho e salariais” destes trabalhadores. “As empresas não têm falta de dinheiro, apostam sim em desvalorizar os salários e empobrecer os trabalhadores, porque, como se observa, têm muito dinheiro para investir milhões e milhões em campanhas de baixa de preços – dumping – para destruir a concorrência e a produção agrícola, agroindustrial e industrial nacional”, acrescentou.

Nos últimos anos, o CESP tem emitido pré-aviso de greve para o 1.º de Maio, para dar a possibilidade aos trabalhadores dos super e hipermercados de comemorarem o Dia do Trabalhador, mas, este ano, o objetivo da greve não será apenas esse “porque tem a ver com a situação laboral especifica destes” funcionários.

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Até há pouco anos, os supermercados encerravam neste dia. O sindicato não avança números mas, de acordo com a Lusa, pelo menos em Coimbra, está a ter um impacto reduzido.

O caso Pingo Doce e as promoções especiais do 1.º de Maio

A 1 de maio de 2012, os supermercados Pingo Doce decidiram preparar uma promoção inédita para o Dia do Trabalhador. Em compras superiores a 100 euros, todos os produtos da loja ficavam a metade do preço. Naquele dia, não se falou das manifestações comemorativas da data. O tema dominante foram as filas intermináveis de gente nas caixas, as horas extra que os funcionários foram obrigados a fazer para aviar todos os clientes, as ruturas de stock, as embalagens vazias de comida no chão, que mataram a fome aos clientes em desespero. Algumas lojas tiveram de fechar mais cedo e os seguranças viram-se desesperados para conter as pessoas indignadas por não poderem aproveitar as promoções da cadeia que cantava, nos anúncios de publicidade, não recorrer a “cartão ou promoção”. Houve feridos no Porto.

No ano seguinte, a empresa teve de anunciar previamente que não iria repetir a estratégia, tal era a curiosidade dos consumidores. Até porque, em 2012, a Autoridade da Concorrência tinha condenado o grupo Jerónimo Martins a uma coima de 30 mil euros pela campanha, por alegadamente ter vendido produtos abaixo do preço de custo – dumping – prática proibida por lei.

Esta sexta-feira, quem for a uma loja Pingo Doce vai encontrar 100 produtos com 50% de desconto. A concorrência está de olho e o Continente colocou à disposição dos clientes “mais de 1.700 produtos” com 50% de desconto direto.

Zilda Ferreira, que foi ao Continente, em Coimbra, sem intenção de aproveitar as promoções, encontrou “um montão de gente” à entrada do estabelecimento, às 08h30, hora de abertura. “Há muita gente”, disse à Lusa, dizendo que não tinha conhecimento da convocação da greve por parte do CESP e do Sindicato dos Trabalhadores e Técnicos de Serviços, nem notou o seu impacto dentro do hipermercado. Contudo, disse que concorda com a mesma: “Eu tenho uma empresa e ela hoje está fechada. Os trabalhadores devem ter direito ao feriado”, defendeu.