destaque

Os ingredientes pareciam estar lá todos, a conspirarem para que a aventura de regresso ao topo fosse uma misturada de sabores agridoces. Percebia-se. O plantel do Boavista parecia tão tricotado como o xadrez do equipamento, cheio de jogadores desconhecidos, habituados a outras divisões, e parco em dinheiros para reforçar uma equipa que, por decisão da justiça, dava de repente um pulo do Campeonato Nacional de Seniores para a primeira das ligas de futebol do país. A ajudar à festa, o clube pediu depois a alguém sem grande experiência que desse ordens desde o banco e segurasse na colher de pau para confecionar o prato. Tinha tudo para correr mal, mas o Boavista de Petit acabou por se safar.

Conseguiu-o, sobretudo, em casa, onde soube construir uma fortaleza assente no único campo de relva sintética do campeonato, onde venceu, para já, oito dos 16 encontros que já leva jogados no Estádio do Bessa — longe dali só ganhou uma partida. A mais recente dessas vitórias aconteceu este domingo. O 3-1 frente ao Moreirense permitiu à equipa festejar a permanência na liga, a três jornadas do fim. “Este é um dos dias mais felizes da minha curta carreira como treinador”, confessou Petit, que aprendeu a jogar à bola no Boavista e por lá ficou durante três anos. “Quando começámos este percurso, poucos acreditavam nesta equipa”, lembrou João Loureiro, o presidente, antes de frisar que era “óbvia” a continuidade do treinador. Quem não deverá insistir nesta andanças é Fary. O senegalês de 40 anos teve direito a uns minutos em campo e assim tornou-se no mais velho jogador a pisar um relvado da liga nas últimas 24 épocas.

Rumo a outro objetivo continua o Benfica, que foi a Barcelos inventar um 5-0 contra um demasiado frágil Gil Vicente. Continua com mais três pontos que o FC Porto e com Jonas a forçar o taco-a-taco dos golos com Jackson Martínez. O brasileiro está com 17 e, por umas horas, ficou com os mesmos do colombiano, que no final de um enfadonho jogo em Setúbal ainda marcou mais um para continuar a ser ele o único líder na corrida dos homens que mais bolas rematam para o fundo da baliza. Neste grupo, embora mais longe, também está Fredy Montero, que tem tanto de molengão como de avançado — dos bons — e vai com 11 marcados no campeonato. Ao todo, está a dois de igualar os 16 golos com que fechou a temporada passada.

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No sábado fez dois, os da vitória que assegurou ao Sporting o terceiro lugar e o bilhete para, no próximo verão, estar na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Ou seja, pelo menos metade do mínimo dos mínimos impostos por Bruno de Carvalho, o presidente, está garantido — falta conseguir a outra metade, que é ganhar a Taça de Portugal, no Jamor, contra o Sporting de Braga, que deixou de ter margem matemática para fazer melhor que o quarto lugar que ocupa no campeonato.

desilusão

Onde parece haver margem de sobra é na conversa, a tal que continua a ferver à volta de quem segura, ou não, o apito em jogos dos grandes. A semana passou-se com palavras a serem disparadas de todos os lados, contra a nomeação de João Capela para o Gil Vicente-Benfica, por ser o árbitro que já havia apitado o jogo da primeira volta do campeonato. José Mota criticou e até Julen Lopetegui, treinador do FC Porto, mandou bocas. E o que se viu? Um homem do apito que, como se quer, em nada influenciou o resultado da partida em Barcelos. Findo o encontro, esse e o dos dragões, ninguém tocou no assunto. Mas quando é para criticar, aí toda a gente fala.

Quem continua a não conseguir tocar no assunto das vitórias é Carlos Brito, homem a quem o Penafiel pediu que salvasse a equipa de um tropeção de volta à segunda liga. Em seis jogos, o treinador que ficou conhecido pelos muitos anos que passou no Rio Ave ainda não conseguiu vencer, apesar de ter conseguido, pela primeira vez, passar 90 minutos sem sofrer um golo. Fê-lo contra a Académica (0-0), que também tarda em chegar perto de garantir a manutenção. Além do Boavista, mais nenhuma equipa que anda à rasca para manter na primeira ligar conseguiu vencer.

Por isso ainda restam cinco clubes a tentarem fugir aos dois lugares que vão obrigar alguém a descer de divisão. E está na altura de a Académica, o Arouca, o Vitória de Setúbal, o Penafiel e o Gil Vicente arranjarem resultados que os ajudem a sobreviver. E cautela para estas duas últimas equipas, às quais na próxima jornada sairá a fava de jogarem contra o Benfica e FC Porto. Daí que Carlos Brito, vendo a vida a ficar cada vez mais negra, tenha soltado uma dessas frases que ficam no ouvido: “A manutenção é um bocado como o Euromilhões, as probabilidades são poucas, porque o Penafiel não depende exclusivamente de si, o que faz toda a diferença.”

frase

“O Benfica ganhou porque é melhor, vai à frente porque é melhor.” Jorge Jesus aproveitou a mão cheia de golos que o Benfica deixou em Barcelos para, no final, defender desta forma a liderança do campeonato. Até acaba por ter razão e isso constata-se com o facto, seja ele vistos aos olhos de que clube for — os encarnados estão no primeiro lugar do campeonato desde a quinta jornada e de lá não mais saíram. O treinador disse também, queixando-se, sem apontar nomes: “Condicionaram a arbitragem durante toda a semana, mas o árbitro mostrou que é um bom árbitro”.

Um dias depois de Jesus dizer isto, Lopetegui optou por nada dizer quando um jornalista o desafiou a comentar as declarações do treinador do Benfica. Ainda bem, porque, venham as críticas e as queixas de onde vierem, as vitórias ganham-se em cima da relva e com uma bola, e não com uma guerra de palavras e declarações. Por muito que Jorge Jesus, como o fez na passada semana, diga que isso “são coisas do futebol”.

resultados

Vitória de Guimarães 2-0 Estoril Praia
Gil Vicente 0-5 Benfica
Sporting 2-0 Nacional da Madeira
Penafiel 0-0 Académica
Marítimo 1-1 Arouca
Boavista 3-1 Moreirense
Vitória de Setúbal 0-2 FC Porto
* o Belenenses-Rio Ave (19h45) e o Paços de Ferreira-Sporting de Braga (20h) apenas se jogam esta segunda-feira.

Esta foi, e está a ser, uma jornada atípica, porque dois dos nove encontros apenas se jogam esta segunda-feira, por culpa, em parte, das meias-finais da Taça de Portugal, onde o Rio Ave e o Braga estiveram na passada quinta-feira. E são jogos que interessam, pois uma vitória do Paços de Ferreira, combinada com uma derrota do Belenenses, equivalem à subida da equipa amarela ao sexto lugar, por troca com os que vestem de azul. Um sexto posto que, confirmada a presença dos bracarenses na final da Taça de Portugal, já dará direito à Liga Europa.