A 9.ª edição do festival Literatura em Viagem (LeV) começa esta sexta-feira, em Matosinhos, dominada pelo conflito. Não entre escritores e organizadores, mas como forma de lembrar os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Gonçalo M. Tavares, Rui Tavares, Francisco José Viegas, Richard Zimler, Kim Young-Ha, Artur Domoslawski e Paloma Díaz-Mas são alguns dos convidados que, até domingo, vão participar em lançamentos de livros e conversas às quais o público pode assistir gratuitamente.

Primeiro, uma má notícia. Paolo Giordano, autor de A Solidão dos Números Primos, teve de cancelar a viagem até ao Porto, devido à greve da TAP. Mas a conversa “O Idealismo é o sonho do mal“, que iria ter com o sul-coreano Kim Young-Ha, vai manter-se, com o português Tiago Salazar a ocupar o lugar do italiano. Todas as conversas (esta marcada para sábado, às 18h00) acontecem na Biblioteca Municipal Florbela Espanca.

“As bibliotecas têm de ser espaços vivos e vividos”, disse ao Observador Fernando Rocha, vereador da cultura da Câmara Municipal de Matosinhos, município que organiza e que financia na totalidade o evento. Se o LeV fosse episódio único na cidade, o vereador não sabe se teria “a importância que tem”, mas insere-se no conjunto de outras atividades literárias, como a festa da poesia, em dezembro, ou as comunidades de leitores. “Tudo isto se integra na programação da biblioteca e no que eu entendo que deve ser uma biblioteca pública. Não pode abrir só a porta e ter estantes com livros. Temos de sensibilizar as pessoas para a leitura e fomentar o gosto pelos livros, para tornar a biblioteca um espaço de debate“, defendeu.

biblioteca Florbela Espanca

Biblioteca Municipal Florbela Espanca. ©CMM

Apesar de o programa ter sido delineado à volta do tema do conflito, o LeV não vai ser uma efeméride da Segunda Guerra Mundial. “Isso é o ponto de partida para projetar o que geram os conflitos. Por outro lado, este tema interessou-nos porque a Europa vive outra vez um momento de instabilidade, há guerra na Europa e à porta da Europa. O que é que isto pode trazer? Veja-se a questão do Mediterrâneo, por exemplo. Não pensamos com isto resolver os problemas, mas pôr as pessoas a refletir”, disse Fernando Rocha.

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Do programa destaca cinco momentos, sendo o primeiro esta sexta-feira, às 21h30: a conferência de abertura com o ex-Presidente da República, Jorge Sampaio. “É uma pessoa que viajou muito e que, por força do cargo que ocupa na ONU, lida com as pessoas resultantes do conflito”, justificou o vereador.

O segundo momento é a conversa entre Tiago Salazar e o sul-coreano Kim Young-Ha. “Tenho curiosidade em ouvir o escritor coreano porque ele tem só um livro, que foi muito premiado, Tenho o Direito de me Destruir, e o tema é muito sugestivo”, disse.

A mesa “Os conflitos interiores“, que abre a programação de sábado, às 15h30, é o terceiro momento a não perder. O romeno Cătălin Dorian Florescu vai estar à conversa com o polaco Artur Domoslawski, autor da polémica biografia de Ryszard Kapuściński.

Logo a seguir, às 16h15, fala-se sobre cães e gatos para abordar conflitos ancestrais. “Vai ser a guerra entre o cão e o gato. Ou seja, se as pessoas estão condenadas a estar permanentemente desentendidas”, disse Fernando Rocha. Na mesa vão estar a holandesa Tessa de Loo e a espanhola Paloma Díaz-Mas, que publicou recentemente em Portugal o livro O que Aprendemos com os Gatos.

Por fim, o vereador sugere uma conversa sobre conflitos ideológicos. João Pereira Coutinho, à direita na bússola política, e Rui Tavares, político de esquerda, vão conversar sobre se esquerda e direita são conceitos obsoletos e se o conflito político faz a sociedade avançar, ou se pelo contrário, a atrasa.

O LeV despede-se de Matosinhos no domingo ao final da tarde, mas ainda não diz adeus definitivo. É que na segunda-feira, às 18h30, o evento estreia-se em Lisboa, na Fundação Saramago, com a apresentação do livro Olhares sobre a História da Música em Portugal, seguida do debate “Que conflitos para o século XXI?”, entre Dulce Maria Cardoso e Rui Cardoso Martins, com moderação de Pedro Vieira. “Este ano entendemos que tínhamos maturidade para nos estendermos a Lisboa”, explicou Fernando Rocha. “Também para mostrar às pessoas de Lisboa que fazemos coisas decentes [risos]”.