Muitos de nós andamos com um smartphone no bolso, máquinas com tecnologia de ponta que usamos sem ter a noção do que é possível fazer com elas. Foi com base nesta realidade que a Google convocou jornalistas de todo o mundo a visitar Madrid e, com recurso às aplicações da marca, explorar os recantos da cidade.
O recurso físico, a máquina, foi um Nexus 6. Na apresentação à chegada dos jornalistas, os responsáveis da empresa fizeram questão de sublinhar que as aplicações que iríamos testar estão disponíveis não apenas no sistema operativo Android, mas também no iOS da Apple. O software, claro, foi o da Google e é já conhecido pelos utilizadores mais experimentados: Mapas, Tradutor, Fotos e Busca por Voz.
A ideia geral era andar pela cidade e procurar, descobrir e registar locais e momentos. Fizemos questão de usar o Nexus como máquina fotográfica e de filmar, um hábito cada vez mais comum, pois desde há algum tempo que os smartphones substituem as câmaras fotográficas compactas — os telemóveis captam imagem com cada vez melhor resolução (13 megapixel e filme em 4K, no caso do Nexus 6).
Vicky Campetella, relações públicas da Google, explicou-nos em 20 segundos o que fomos ali fazer:
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Ser um “turista tecnológico”, portanto. Nada de papel ou caderno de notas, apenas e só um smartphone. Tarefa simples, aparentemente.
As ferramentas são muito fáceis de usar. Os Mapas da Google (utilizados mensalmente por mil milhões de pessoas) são intuitivos, seja em modo linear seja em modo “satélite” — mas aqui o consumo de dados móveis aumenta, porque a aplicação carrega imagens relativamente detalhadas dos locais. Um exemplo prático: na noite anterior ao passeio ou viagem (e no restaurante durante o almoço, no nosso caso), assinale no mapa com uma “estrela” os pontos que quer visitar. Depois, pés a caminho e siga os trajetos sugeridos no mapa em tempo real. Basta manter o telemóvel junto ao corpo, ele vibra quando for altura de virar à esquerda ou à direita. Se preferir usar um auricular, ouvirá uma voz que lhe dá essas indicações.
O grau de precisão é muito elevado, o que lhe permite encontrar facilmente pontos de interesse que estejam próximos do local onde se encontra. Ou seja, se é um turista que gosta de andar sem rumo, tem nesta ferramenta um auxiliar muito útil, que lhe possibilita saber através de um rápido olhar se está perto de algum lugar merecedor de visita. E sim, é muito mais fácil descobrir uma cidade com um smartphone nas mãos, mas convém gerir as distrações, levantar a cabeça e apreciar o mundo à volta.
A tecnologia avança em muitas frentes mas há um aspeto em particular que parece encalhado no tempo. Os processadores estão cada vez mais rápidos, a memória de processamento e armazenamento aumenta de ano para ano, as câmaras e ecrãs têm cada vez melhor definição mas há um componente que não acompanha esta evolução: a bateria. Uma solução para manter a energia é andar com um carregador externo no bolso de trás das calças.
Outro problema prático mais ou menos transversal a todos os smartphones, perante uma utilização intensiva, é o aquecimento, que se torna particularmente agudo nos dias quentes. O calor excessivo diminui ainda mais a autonomia da bateria e, arrelia maior, interfere na performance do equipamento.
Além dos Mapas da Google, tivemos oportunidade de experimentar com frequência a aplicação Tradutor. É uma ferramenta poderosa (e popular), que permite a tradução não apenas do texto que escrevemos com o teclado, mas também dos riscos que desenhamos com os dedos, o que é particularmente útil para ideogramas (símbolos gráficos que representam palavras ou conceitos), tais como os utilizados na China e no Japão. É possível ainda ditar as palavras ou frases que queremos ver traduzidas — o sistema funciona bastante bem no reconhecimento do português. Mas o aspeto mais impressionante é a tradução de caracteres em tempo real. Este sistema de reconhecimento óptico identifica e traduz o texto (bem) escrito, onde quer que ele se encontre. Veja-o em funcionamento neste vídeo:
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Esta funcionalidade impressiona, quase que “assusta” (não no mau sentido do termo, claro). Os responsáveis da Google explicaram-nos que a combinação de idiomas mais desenvolvida é o inglês/espanhol, mas para o português, além de uma ou outra gralha caricata, o reconhecimento de caracteres funciona razoavelmente bem, o suficiente para não passar vergonhas perante uma ementa de um restaurante numa língua estrangeira.
Outra operação que testámos foi a pesquisa por voz (voice search), mas aqui ainda há muito por desenvolver. O “OK Google”, comando de voz que ativa uma busca no Google, não funciona em português de Portugal e a opção “português do Brasil” não reconhece o (meu) sotaque. Os engenheiros da Google, meio a brincar meio a sério, disseram-nos que “quantos mais portugueses usarem o sistema mais o vamos desenvolver”. Não estamos certo que seja assim que funciona, mas deixaram o aviso.
Finalmente, a aplicação Fotos. Integrada no Google Plus (G+) e por sua vez no Google Drive, oferece a possibilidade de fazer uma cópia automática das fotografias e vídeos (quando estiver ligado em Wi-Fi). Esta funcionalidade é particularmente útil em viagem, já que permite fazer uma cópia de segurança durante a noite no hotel, ou durante uma refeição num restaurante, por exemplo. A Google armazena gratuitamente todas as fotografias com dimensão inferior a 2048×2048 pixels, tudo o resto conta para o espaço disponível no Google Drive (15 GB gratuitos, para particulares — espaço que pode ser aumentado, por subscrição).
Notámos com interesse a organização automática das fotografias e o modo como o Google Search as procura e organiza em álbuns, com o simples recurso a palavras chave. Por enquanto funciona apenas em inglês, mas com grande eficácia. Um dos engenheiros da Google exemplificou-nos esta função. Perguntou ao Google “give me my photos from New York with a taxi” e o algoritmo de reconhecimento selecionou e reuniu num álbum todas as fotografias em que ele aparece ao pé de um táxi amarelo. Ou seja, todas as imagens que importamos para o G+ são analisadas em profundidade, ao ponto de reconhecer não apenas rostos, mas também objetos — a geolocalização anexada a cada fotografia completa os dados.
Houve pausas nesta visita a Madrid. Numa delas, tivemos a hipótese de conhecer e experimentar um dos novos equipamentos da Google: chama-se Trekker. Veja o que é e como funciona:
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Esta é a máquina que está a ser instalada nos comboios da linha do Douro com o objetivo de mapear a linha férrea da região Património da Humanidade (projeto que se estenderá depois, a outras linhas). Estas imagens vão ser incluídas no Street View, uma ferramenta dos Mapas Google que permite obter, literalmente, uma “vista de rua” das moradas e locais que pesquisamos.
É possível que já se tenha cruzado na rua com um dos carros da Google, coloridos e com uma estrutura de câmaras montada no tejadilho. Mas há muitos sítios onde os carros não conseguem passar e é para mapear (fotografar) esses locais que foi criada esta “mochila” especial. O projeto foi apresentado pela primeira vez em 2012 e já foi usado em locais remotos tais como o Grand Canyon (EUA) e as ilhas Galápagos, no Taj Mahal (Índia) e nas ruas históricas de Veneza (Itália).
E quanto custa o Trekker? “Não tem preço”, confidenciou-nos um dos responsáveis da Google. Aliás, é muito difícil calcular o valor objetivo da tecnologia, máquinas e programas em desenvolvimento permanente. Some-se às ideias os recursos humanos e técnicos, os milhares de horas de programação e, sobretudo, o valor útil das aplicações para o utilizador: é subjetivo, mas precioso. E nesse aspeto, a Google não olha a meios.
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Todos as imagens/vídeos foram captadas pelo Nexus 6 e não foram sujeitas a tratamento gráfico (com excepção das fotografias de João Nogueira, devidamente assinaladas na fotogaleria no topo).
O Observador viajou a Madrid a convite da Google.