António Sampaio da Nóvoa diz-se um homem de entendimentos e pontes – “é a história da minha vida” -, afirma que daria posse a um Governo minoritário, mas também a um Governo de bloco central. Tudo em nome da estabilidade governativa. Em entrevista ao jornal Público, publicada este domingo, o candidato à Presidência da República assumidamente de esquerda, rejeita o vício dos governos ao centro e ressalva que há mais para lá desse espetro político. “É o famoso arco da governação, que eu acho uma coisa verdadeiramente insuportával”, diz.
Questionado sobre se considera que o sistema político atual está demasiado virado para o centro, o ex-reitor da Universidade de Lisboa criticou a “convicção que se criou” de que só se pode governar ao centro, através da vulgarização do termo “arco da governação”, e lembrou que esse princípio exclui à partida 20% dos portugueses. “A inevitabilidade do centro é a inevitabilidade de certas políticas. Sou completamente contrário a isso. As sociedades são de uma enorme pluralidade e essa pluralidade deve ser respeitada ao limite”, disse.
Sem filiação partidária, mas assumido homem de esquerda, Nóvoa destacou aquilo que acredita ser a sua capacidade para pôr os partidos a conversar e a fazer entendimentos. “É a história da minha vida”, disse, acrescentando no entanto que os consensos não servem para “vivermos a nossa vidinha o melhor possível”, mas sim para ser feitos em torno de “projetos”. “Sinto-me muito capaz disso. É talvez de todas a coisas a que faço melhor. Essa amálgama do centro é uma coisa muito irritante em Portugal”, sublinhou.
Recentemente, Sampaio da Nóvoa chegou a dizer, numa outra entrevista, que, se estivesse no lugar de Cavaco Silva durante a “irrevogável” crise política do verão de 2013, teria demitido o Governo. Agora, questionado pelo Público, o académico reafirma o que disse, acrescentando que teria convocado novas eleições para auscultar a legitimidade democrática do Governo. Sobre os desafios presidenciais pós-legislativas, Nóvoa garante que daria posse a um Governo minoritário, “não vejo nenhum drama nisso” – desde que fosse possível “encontrar entendimentos e equilíbrios” que permitissem encontrar estabilidade na governação. O mesmo se aplica para um Governo de Bloco Central, embora não fosse essa a sua preferência.
“É muito importante haver estabilidade e que os portugueses sintam que o Presidente garante essa estabilidade. Mas estabilidade, para mim, não é ficar tudo na mesma”, diz.