Os níveis de poluição atmosférica na cidade de Lisboa provocados pelos navios de cruzeiros e carga são “muito elevados”, revela uma medição realizada pela associação de defesa do ambiente alemã NABU, em colaboração com a Quercus.

Em declarações à agência Lusa, Mafalda Sousa, do grupo de energia e alterações climáticas da Quercus, explicou que a ação realizada nos últimos três dias em Lisboa pretende chamar a atenção para as emissões dos navios, no terminal de Santa Apolónia, e dos ‘ferries’ no Cais do Sodré, sobretudo.

“Fizemos algumas medições e verificámos níveis de partículas ultra finas de muito pequena dimensão, que são aquelas que têm maiores efeitos na saúde, porque penetram mais profundamente no sistema respiratório e podem ter impactos muito prejudiciais na saúde”, disse a mesma responsável, alertando que pelas 09:30 de hoje os valores eram de 15 mil partículas por centímetro cúbico, quando o normal é de mil.

De acordo com Mafalda Sousa, a NABU realizou outras medições na cidade de Lisboa, nomeadamente nos ‘ferries’ do Cais do Sodré, tendo sido observado, no momento da partida do barco, 500 mil partículas por centímetro cúbico, “um número muito elevado”, ainda mais agravado pelo facto de este ser um meio de transporte utilizado diariamente por milhares de pessoas para atravessarem o Tejo.

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“No ‘ferry’ do Cais do Sodré medimos uma média de 20 mil partículas por centímetro cúbico, e no momento da partida, quando os motores estão em máxima potencia para arrancar, 500 mil partículas. São números muito elevados, isto quando comparado com o nível considerado de ar limpo, em que apenas medimos mil partículas”, sublinhou.

Como referência, no meio da cidade de Berlim, os técnicos da NABU mediram valores de seis mil partículas por centímetro cubico.

Daniel Rieger, técnico da NABU, explicou à agência Lusa que as pessoas desconhecem a qualidade do ar que respiram na cidade e a ação da associação de defesa do ambiente alemã é precisamente dar a conhecer o que acontece nos principais portos europeus através do projeto “”Clean Air Ports”.

“Temos equipamentos que avaliam as emissões de partículas, óxidos de enxofre e óxidos de azoto, e os valores que foram registados de poluição causada pelos dois navios aqui agora ancorados são muito superiores aos da poluição causada pelo trafego e vão no ‘fumo’ para o centro da cidade, onde as pessoas vivem e o respiram todos os dias”, explicou Daniel Rieger.

O especialista referiu que os resultados encontrados em Lisboa são comparáveis aos medidos em outros portos europeus com navios de cruzeiro, como Veneza, Barcelona, Bergen (Noruega) e Hamburgo (Alemanha).

De acordo com Daniel Riger, tais resultados devem-se ao facto de os navios estarem a navegar com “combustíveis muito pesados e sujos, sem fazerem nada para filtrar o ar poluído”.

Mafalda Sousa adiantou que os dados agora recolhidos vão ser apresentados à Administração do Porto de Lisboa (APL), com sugestões e recomendações de como pode ser melhorado o desempenho deste tipo de navios.