Pedro Passos Coelho diz que “não há qualquer hipótese” de uma coligação com o Partido Socialista. Em entrevista ao semanário Sol, o primeiro-ministro descarta qualquer entendimento depois das eleições legislativas entre a coligação PSD/CDS e o PS.
Segundo o primeiro-ministro, “no atual contexto, não há nenhuma hipótese de um Governo juntando PSD, CDS e PS poder sequer funcionar” e salienta as diferenças em termos de política económica: “O programa económico é divergente, o modelo económico é diferente”.
“A forma como o PS – e já vão em duas lideranças – vem colocando o problema político e económico mantém o mesmo perfil e não é conciliável com os objetivos que temos, quer com as regras europeias, quer com o que tem sido o esforço de modernização e de reforma estrutural da sociedade portuguesa”, diz. Contudo, o presidente do PSD não assume nenhuma posição absoluta sobre soluções de Governo: “Em teoria, todos nós não podemos deixar de nos sujeitar ao resultado das eleições, e depois das eleições então veremos o que é que se fará. E eu não vou a este tempo das eleições pôr-me a traçar cenários”.
Sobre a crise política do verão de 2013, primeiro-ministro reconhece que houve “divergências reais” dentro da coligação, que “foram expressas publicamente”, mas considera que foram ultrapassadas. “Não foi fácil ultrapassá-las, mas ultrapassamo-las. E eu acho que isso é o mais importante”, defende.
“Nós passámos, em 2013, por uma crise verdadeira, não foi uma crise falsificada.
Especificamente sobre o momento do pedido de demissão “irrevogável” de Paulo Portas, que suscitou reações do CDS depois do lançamento da biografia autorizada de Passos, o primeiro-ministro confirma que “a versão que o livro narra corresponde à verdade” – ou seja, Paulo Portas enviou uma mensagem de telemóvel a Passos, no verão de 2013, a avisar que se ia demitir. No dia em que o conteúdo do livro foi conhecido, o gabinete de Portas reagiu passado algumas horas, corrigindo a versão do SMS do primeiro-ministro e detalhando a sua versão dos acontecimentos: “O pedido de demissão do então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros aconteceu na manhã de 2 de julho de 2013, e foi naturalmente formalizado por carta”.
Agora Passos acrescenta que falou com o vice-primeiro-ministro no rescaldo da polémica após o lançamento do livro: “Trocámos impressões sobre a polémica e a necessidade de não deixar que o incidental se sobrepusesse ao fundamental. E estivemos os dois sintonizados em que o importante é focar a nossa intenção de nos submetermos às eleições em conjunto”, diz.
Mas demarcou-se do livro propriamente dito, escrito por Sofia Aureliano, assessora do grupo parlamentar do PSD, afirmando que ainda não teve tempo para ler o livro todo. “Não é um género que me atraia particularmente, em particular sendo a minha própria biografia. Mas irei ler com certeza, com a obrigação de quem, sabendo que houve polémica em torno de algumas passagens, se quer inteirar do que ali é retratado”, acrescenta.
Elogios ao governador do Banco de Portugal
Na mesma entrevista ao semanário Sol, Passos admite que tem uma “visão muito positiva” do mandato do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e elogia o seu papel no caso BES por “não ter fingido que não via o que se estava a passar” e ter tomado as devidas ações para “salvaguardar a estabilidade financeira”.
O mandato de Carlos Costa no Banco de Portugal termina em junho e o Governo ainda não anunciou se pretende ou não reconduzi-lo. “É uma decisão que não está tomada. Ainda não falei com a ministra das Finanças sobre essa matéria, mas ela sabe que eu tenho uma visão muito positiva do mandato do actual governador, que não foi escolhido por nós, mas pelo anterior Governo, mas que nem por isso deixou de fazer um bom mandato”, rematou.
O primeiro-ministro comentou ainda a polémica sobre o seu elogio público a Dias Loureiro, ex-administrador da SLN, detentora do BPN, dizendo que se “exagerou o modelo de virtudes” que terá louvado. “O que se passou com o BPN foi grave, ainda está a ser julgado pela justiça portuguesa, teve um impacto muito grande junto das nossas finanças públicas. Saber que responsabilidade teve Dias Loureiro nesse processo é matéria que estará a ser vista pelos tribunais”, acrescentou.
Sobre a polémica da lista Vip de contribuintes, Passos admite que pode fazer sentido proteger mais uns contribuintes do que outros e deixa críticas à Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD). “Julgo que o Estado, o Fisco, a Administração Tributária têm obrigação de proteger os dados fiscais dos contribuintes. Os contribuintes não estão todos em igualdade de circunstâncias. Vários deles suscitam uma curiosidade e um interesse maiores do que outros. Nesse sentido, uma lista ou um filtro para aqueles que estão numa primeira linha de exposição pode fazer sentido”, diz.
Ainda sobre a governação, Passos admite que o atual Governo não fez a prometida reforma de Estado, mas “iniciou-a”. “Tudo isto não chega para completar aquilo que deve ser uma reforma do Estado. Devemos ter um Estado mais regulador do que executante – e que esteja em condições de zelar melhor pelo interesse público sem criar barreiras excessivas aos cidadãos”, reconheceu.
Artigo atualizado às 9h do dia 15/05