O grupo tailandês Minor quer comprar todas as unidades dos Hotéis Tivoli em Portugal. A proposta prevê um perdão parcial de dívida, que irá afetar sobretudo os credores subordinados, mas a alternativa à venda será a insolvência, defende a gestão da empresa do Grupo Espírito Santo no plano apresentado ao abrigo do processo especial de revitalização (PER).

A cadeia hoteleira Minor já adquiriu as unidades da Tivoli no Brasil e alguns terrenos em Portugal onde estão instalados hotéis, num investimento de 160 milhões de euros. E agora pretende adquirir os 12 hotéis em Portugal, prometendo pagar uma parte da dívida à banca e fornecedores e assegurar os cerca de 1000 postos de trabalho. De acordo com a lista já divulgada, são reclamados créditos totais de 116,8 milhões de euros. Destes o correspondente a 48,7 milhões de euros são créditos subordinados cujo pagamento está excluído na proposta de compra do grupo tailandês. O maior credor subordinado é a Espírito Santo Hotéis, a acionista da Tivoli, com suprimentos de 41,5 milhões de euros.

O maior credor da empresa é o BCP, com cerca de 57,6 milhões de euros, sem garantias, com excepção de uma facilidade de quatro milhões de euros de créditos, concedida já ao abrigo do PER e aprovada pelo gestor judicial. O maior crédito reclamado, no valor de 60 milhões de euros, era do Montepio, mas o gestor judicial recusou reconhecer esta dívida que é também reclamada à Tivoli Hotéis, a Espírito Santo Hotéis, onde foi reconhecida.

O plano apresentado aos credores, e que a o Observador teve acesso, prevê pagar na totalidade as dívidas garantidas. Para os restantes credores, propõe um perdão de 25% do capital em dívida e respetivos juros a fornecedores, ou o pagamento faseado do capital (sem juros) até 36 meses, com 20% da amortização no primeiro ano. Para os credores comuns, é proposto um perdão de 22% do capital em dívida, mas com reembolso de juros. A empresa não tem dívidas aos trabalhadores nem ao Estado.

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A Hotéis Tivoli é detida pela Espírito Santo Hotéis, uma subsidiária da Rioforte, holding não financeira do Grupo Espírito Santo (GES) que está em insolvência no Luxemburgo. A empresa portuguesa aderiu ao PER quando foi confrontada com uma situaçao de quase rotura na tesouraria devido às dificuldades financeiras da acionista e ameaçava entrar em incumprimento. A Tivoli Hotéis estava em processo de venda há cerca de um ano, mas a operação ficou comprometida com a crise do GES.

A administração da Tivoli defende que a transação prevista no plano:

“É o melhor e o único cenário possível no curto prazo para, por um lado, evitar a liquidação desta sociedade com consequências económicas e sociais avassaladoras que daí adviriam e, por outro lado, simultaneamente assegurar não só a sua continuidade como também a sustentabilidade da sua atividade e da sua marca, e desse modo e por essa via, melhor acautelar a satisfação dos interesses dos seus credores e do seu elevado número de trabalhadores”.

A operação em cima da mesa prevê que os funcionários da empresa portuguesa sejam transferidos para o novo proprietário, nos termos dos seus contratos de trabalho. A gestão da Tivoli Hotéis sublinha que esta é a única oferta existente.

Nas contas apresentadas, um cenário de liquidação de ativos permitira obter um valor patrimonial inferior a 70 milhões de euros. A proposta financeira do Minor Group envolve montantes da ordem dos 82 milhões pelos vários ativos do grupo hoteleiro português, incluindo o pagamento de dívidas.

Quem quer comprar os Hotéis Tivoli?

De acordo com a descrição que consta do plano de revitalização, o Minor Group tem 126 hotéis e uma forte presença na Ásia, Austrália e Médio Oriente. Para além de operar com as marcas Four Seasons e Marriot, tem marcas próprias como a Avani, Oaks e Anantara. O grupo pretende expandir na Europa e na América e é no quadro desta estratégia que se insere a compra da cadeia portuguesa.

A proposta de compra do Minor Group caduca se o plano de recuperação não for aprovado, ao abrigo do PER, até 25 de junho. O grupo pede ainda exclusividade até 7 de julho. Entre as condições de eficácia do negócio está, por exemplo, a obtenção da concessão da exploração do Hotel Palácio de Seteais, em Sintra. O gestor judicial pede aos credores que apresentem a declaração de voto até dia 21 de maio (quinta-feira) e destaca as consequências gravosas da sua não aprovação.