A pergunta pode parecer uma provocação, mas ainda não se tinha conseguido prova experimental da importância ou necessidade da reprodução sexuada (e do papel dos machos no processo). Esta semana, um estudo publicado na revista Nature veio dar resposta, biologicamente falando, à necessidade da existência de um macho e de uma fêmea no processo evolutivo. A conclusão é esclarecedora: evitar a extinção.

A Natureza é complexa, mas um olhar (simplificado) sobre a evolução das espécies permite concluir que ela se rege pela lei do menor esforço. Ou seja, a vida na Terra desenvolve-se com base em mecanismos de reprodução e desenvolvimento que envolvem a menor quantidade de energia possível. A reprodução assexuada, que dispensa os dois indivíduos para a concepção é, energicamente falando, a mais económica. Foi esta a estratégia evolutiva adoptada pelas bactérias, em que basta que uma célula se divida em duas (por mitose) para que seja criado outro indivíduo, a cópia exata do que lhe deu origem (ou quase exata, porque por vezes surgem mutações nesse processo de cópia).

Na reprodução sexuada, como o nome indica, é necessário que exista sexo, a forma que a Natureza encontrou para cruzar material genético entre os indivíduos. Mas este processo é complexo em várias vertentes, porque obriga à fecundação. Usando como exemplo os mamíferos, isso requer competição (entre machos), um processo de escolha das fêmeas (pelo macho mais apto), o cruzamento sexual propriamente dito (com todas as suas condicionantes), a gestação e cuidado das crias.

E era aqui que surgia a pergunta: se são as fêmeas quem concebe os progenitores, quem os traz ao mundo e, em última análise (com excepções), quem cuida deles até se tornarem autónomos, para que servem os machos? Para encontrar a resposta, uma equipa de cientistas da Universidade de East Anglia (Reino Unido), estudou nada mais nada menos que 50 gerações sucessivas de escaravelhos, ao longo de uma década.

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Os investigadores separaram os escaravelhos em vários grupos, um primeiro constituído por casais monogâmicos e os outros com um rácio macho-fêmea crescente, até um máximo de 10 fêmeas para 90 machos. Ou seja, um grupo onde as fêmeas tinham muito por onde escolher, comparativamente com o grupo controlo, em que não havia escolha. A análise reprodutiva destes grupos concluiu que quanto menor a diversidade genética do grupo, menor a hipótese de sobrevivência da prole, isto porque a falta de diversidade genética fez acumular mutações. Resultado: a sobrevivência do grupo de controlo não passou da décima geração.

Ou seja, a seleção sexual é fundamental para a manutenção das características genéticas dos mais aptos, algo que já se sabia desde que Charles Darwin explicou a Teoria da Evolução. As fêmeas escolhem os machos mais fortes, aqueles que garantem a descendência. É assim que funciona, desde os insectos aos mamíferos mais pequenos e, em última análise, ao Homem. A teoria era conhecida, mas este estudo acrescentou evidências experimentais e concretas da importância da diversidade, e de como o sexo é uma forma eficaz de manter a saúde genética das espécies e populações.

Apesar desta vantagem evolutiva, há cientistas que defendem que a extinção dos machos é um processo inevitável. Ao que parece, isso acontecerá devido a uma fragilidade estrutural do (pequeno) cromossoma Y — o que define as características sexuais masculinas. As fêmeas, com dois cromossomas X, acabarão por prevalecer geneticamente. Mas segundo estes estudos, ainda faltam cinco milhões de anos até que possam deixar de existir machos. E a seguir, qual será a direção que a biologia e a evolução vão tomar?