Foi a última e a menos participada das assembleias-gerais da Portugal Telecom SGPS em mais de dez anos. Bastou 37% do capital para selar o fim do Grupo PT, tal como o conhecemos nos últimos 20 anos. A mudança de nome para PHarol foi aprovada esta sexta-feira por expressiva maioria dos votos presentes na última reunião magna da PT SGPS.
A empresa que hoje está reduzida à participação acionista na Oi e à dívida de 900 milhões reclamada sobre a Riforte, holding falida do Grupo Espírito Santo (GES), muda também de sede, abandonado o edifício emblemático do Fórum Picoas, em Lisboa, para instalar-se numa morada mais modesta, na Rua Carlos Alberto da Mota Pinto, Amoreiras. Ainda assim, vai manter um conselho de administração com 11 elementos, liderado por Luís Palha da Silva.
Apesar de aprovar o novo conselho e os estatutos, a assembleia acabou por não votar um ponto sensível, a apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade. Os acionistas aprovaram as alterações dos estatutos e a transferência para resultados transitados de 175 milhões de euros dos prejuízos apurados em 2014. Horas antes, a ainda PT SGPS tinha anunciado perdas trimestrais de 43 milhões de euros, muito por causa dos maus resultados da participada Oi, onde terá 27,8% do capital. Acaba sem glória a história de 20 anos da Portugal Telecom.
Da privatização a campeão nacional
A Portugal Telecom (PT) nasceu em 1994 a partir da fusão entre os operadores públicos Telecom Portugal, TLP (Transportes de Lisboa e Porto) e da Teledifusão de Portugal, dona da rede de televisão. A Telecom Portugal explorava as chamadas no país e os TLP, já separados dos CTT, tinham o monopólio dos telefones em Lisboa e Porto. No ano seguinte, a PT integra a participação do Estado na Marconi, a empresa que operava as chamadas internacionais e que tinha como acionista privado de referência o GES. Está criado o novo operador que domina o mercado nacional das telecomunicações.
A Portugal Telecom arranca sob a presidência de Luís Todo Bom, que tinha sido o presidente da Telecom Portugal, e que, na leitura dos jornais da época, ganhou a disputa pela liderança do novo grupo. Na altura, aquele que veio a ser o último presidente da PT SGPS, João de Mello Franco, presidia aos TLP.
Em 1995, a privatização arranca na bolsa ainda pela mão do governo de Cavaco Silva e prossegue a bom ritmo no executivo socialista de António Guterres. Os anos seguintes serão de consolidação da presença privada no capital da empresa e de internacionalização, com o Brasil a representar a grande aposta.
O grupo PT não pára de crescer dentro e fora de portas. No Brasil, a Telesp (operadora móvel de S.Paulo que viria a dar a Vivo) é a empresa mais cobiçada. Em Portugal, lança a TMN, que ultrapassa a Telecel (hoje Vodafone) nos telemóveis com o inovador produto pré-pago que foi o Mimo, a Sapo na Internet, assume a TV Cabo e compra a Lusomundo. Aproveita as promessas precoces da nova economia e lança a PT Multimedia em bolsa, onde as ações chegaram a valer mais de 140 euros. O grupo PT, com o BES/GES no capital e na administração, é um campeão nacional que dá cartas na economia em geral e nas telecomunicações em particular.
PT resiste à OPA da Sonae, mas não à venda da Vivo
Poderosa e lucrativa, a PT não se livra da acusação de asfixiar a concorrência, com a discreta ajuda de algum poder político que batalha em Bruxelas para manter os direitos especiais (golden share) na operadora. Para além do fracasso da Oni, o segundo operador lançado pela EDP e BCP, também a Sonae luta para singrar no mercado das telecomunicações. E, em 2006, o grupo de Belmiro de Azevedo lança uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a Portugal Telecom que, se fosse concretizada, seria o maior negócio de sempre em Portugal, mais de dez mil milhões de euros.
A gestão da PT, então liderada por Henrique Granadeiro, resiste à OPA da Sonae, mas paga cara essa resistência aos acionistas que apoiaram a estratégia de não vender. É daqui que resulta o spin off (dispersão) em bolsa da irmã mais nova, a PT Multimedia que é “oferecida” como parte do prémio aos acionistas. Esta empresa viria a originar a Zon que veio a fundir-se com a Optimus, da Sonae, criando a Nos.
Um ano para o barco afundar
Quatro anos mais tarde, em 2010, a PT não resiste e vende a brasileira Vivo à Telefónica por 7,5 mil milhões de euros e investe na Oi. Em 2013, é anunciada a fusão entre as duas empresas com predominância dos acionistas da PT. A operação implica a transferência da PT Portugal e da participação em Angola para a empresa brasileira, o que é concretizado há um ano (maio de 2014). Um mês depois, emerge o buraco de 900 milhões de euros provocado pelo investimento na Rioforte, do GES, que é decisivo, embora não seja o único responsável, para afundar o barco PT.
Nos destroços do grupo e do banco Espírito Santo, a PT sucumbe aos parceiros brasileiros que impõem a venda da PT Portugal à francesa Altice. A operação é descrita por um dos principais acionistas e administrador, Rafael Mora, ex-vice-presidente da Ongoing, como o negócio menos mau que estava em cima da mesa.
A compra da PT Portugal estará a dias de ser concretizada, precisamente um ano depois de rebentar a tempestade BES/GES. Esta sexta-feira, o nome do acionista português da Altice, Armando Pereira, foi avançado pela agência Lusa, como sendo o novo presidente não executivo da PT Portugal. Falta conhecer o novo homem forte daquilo que resta da PT.