A chanceler alemã, Angela Merkel, criticou o recurso à pena de morte no Egito, mas defendeu o reforço das relações económicas bilaterais, numa agitada conferência de imprensa durante a polémica visita a Berlim do presidente Al-Sissi.

Angela Merkel criticou a aplicação da pena de morte, afirmando que a Alemanha não admite a pena capital “em circunstância alguma”, mesmo tratando-se de “atividades terroristas” ou quaisquer outras que envolvam “a segurança do Estado”.

A chanceler alemã salientou, no entanto, o papel do Egito numa região marcada pela instabilidade e sustentou que o reforço dos laços comerciais entre a Alemanha e o Egito contribuirá para aprofundar “a estabilidade através do desenvolvimento económico” no país.

“Temos uma perspetiva diferente da sua em relação à pena de morte. Está ancorada na nossa legislação e integra a nossa ordem constitucional”, disse por seu lado Abdel Fatah al-Sissi, sem ter sido questionado sobre o assunto.

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A visita de Al-Sissi a Berlim, onde foi recebido com honras militares pelo governo mas também por protestos nas ruas, desencadeou polémica na imprensa devido ao apoio do Egito a regimes repressivos no combate ao extremismo islâmico e à condenação à morte, a 16 de maio, do presidente islamita deposto Mohamed Morsi.

Al-Sissi, ex-Chefe do Estado-Maior egípcio, liderou a deposição de Morsi em 2013 e lançou uma vaga de repressão de islamitas que fez centenas de mortos e milhares de detidos, muitos condenados à morte em julgamentos rápidos.

Na conferência de imprensa conjunta, uma mulher gritou para al-Sissi chamando-lhe “assassino”, o que levou muitos dos jornalistas egípcios presentes a defender o presidente com aplausos e gritos de “longa vida ao Egito”, enquanto Merkel e al-Sissi abandonavam a sala acompanhados de seguranças.

O presidente do parlamento alemão, Norbert Lammert, cancelou uma reunião com al-Sissi devido “à perseguição sistemática de grupos oposicionistas com detenções em massa, condenações a longas penas de prisão e um número incrível de sentenças de morte”.

Mas durante os dois dias de visita al-Sissi reuniu-se com o presidente alemão, Joachim Gauck, e ainda tem previstos encontros com o vice-chanceler, Sigmar Gabriel, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier.

Segundo a imprensa egípcia, o presidente irá assinar em Berlim vários acordos nos sectores das energias renováveis e petróleo em encontros com grandes empresas alemãs.

Pelo menos cinco grandes organizações internacionais de defesa dos direitos humanos — entre as quais a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch — apelaram a Angela Merkel para pressionar al-Sissi a pôr fim “à mais grave crise de direitos humanos no Egito em décadas”.

Durante o encontro com Merkel, grupos de manifestantes denunciaram a repressão e perseguição de opositores e as limitações à liberdade de imprensa no Egito. A alguma distância, grupos leais a al-Sissi manifestavam-se também a seu favor.