Tem 28 anos e já estará a pensar na vida depois do ténis. O campeão britânico Andy Murray, terceiro no ranking mundial do ATP, é a primeira figura pública a investir em startups através da plataforma de crowdfunding (financiamento coletivo) luso-britânica Seedrs, avançou o fundador Carlos Silva ao Observador. Além de investir, Andy Murray vai fazer parte do conselho de consultores estratégicos da empresa.
“A equipa do Andy Murray entrou em contacto connosco há cerca de um ano, porque ele tem andado a pensar nos seus investimentos e na vida depois do ténis. E uma das coisas que ele tem bastante interesse é em apoiar startups, sobretudo na área da saúde e dos ‘wearables’ [tecnologias para vestir], que ajudem a melhorar a sua ‘performance’ enquanto desportista”, explicou Carlos Silva ao Observador.
Durante um ano, o tenista tem investido de forma anónima naquela que é a primeira plataforma mundial de crowdfunding regulada pela entidade que supervisiona o mercado financeiro britânico, a Financial Conduct Authority (FCA).
Ao Sunday Times, o tenista explicou que sempre se interessou pela área do investimento e que quer estar envolvido “de uma forma inovadora”, apoiando startups britânicas. “Também é muito importante para mim estar a trabalhar com pessoas em que confio e que entendem perfeitamente a grande responsabilidade que é lidar com o dinheiro das pessoas”, disse.
A Seedrs é uma espécie de Shark Tank público, em que qualquer pessoa pode investir nos projetos em que acredita a partir de 10 euros ou 10 libras. Em troca, recebe uma percentagem de ações da startup em que investe. Desta forma, a plataforma permite que empresas de qualquer setor e em diferentes fases de crescimento levantem investimento de forma prática e transparente.
A autorização da atividade pela FCA só chegou 18 meses depois de as negociações terem começado. “Foi um processo longo, pelo facto de termos sido o primeiro operador a pedir esta autorização. E foi bastante interessante, porque o regulador também não sabia como enquadrar este tipo de negócios“, conta Carlos Silva.
A ideia da Seedrs nasceu quando Carlos Silva estava a fazer um MBA em Oxford, com o objetivo de lançar o seu próprio negócio, e reparou que o processo de levantar capital era “relativamente complexo, muito tradicional e muito incipiente”. Porque não avançar com uma plataforma que “permitisse democratizar o investimento” em startups? Em 2012, lançou a Seedrs, com sede no Reino Unido, mas com escritório também em Lisboa.
“Na altura, estávamos a operar apenas no Reino Unido, porque apesar de também termos escritório em Lisboa, fazia sentido estarmos lá. Neste momento, estamos a operar em toda a Europa e adquirimos recentemente uma empresa nos Estados Unidos da América e prevemos começar a operar no mercado norte-americano no segundo semestre do ano”, diz.
A crescer 15% por mês, a Seedrs ajudou a financiar 110 empresas no ano passado, com cerca de 30 milhões de euros investidos na plataforma. Em outubro de 2014, a Chapel Down, empresa britânica do setor de bebidas e vinhos, bateu o record de financiamento, ao ter angariado 3,95 milhões de libras (mais de cinco milhões de Euros) junto de 1.407 investidores. “Foi a primeira vez que uma empresa cotada em bolsa levantou capital através de equity crowdfunding“, contou Carlos Silva.
A Agroop, que desenvolveu um software para gerir operações agrícolas, foi a primeira empresa portuguesa a concluir com sucesso uma campanha de financiamento na Seedrs, tendo conseguido ultrapassar o objetivo do financiamento – 75 mil euros por 5% de ações. Investiram na Agroop 134 pessoas de vários países. A lisboeta Moodnut, que criou um canal de interação permanente entre as marcas e o público, também está à procura de financiamento na plataforma.