É associado de uma das empresas que participou na última ronda de investimento da Farfetch – aquela que a avaliou em mil milhões de de dólares – e disse ao Observador que a e.ventures está “ativamente à procura” de empresas portuguesas para investir. Jonathan Becker não tem dúvidas: o ecossistema de empreendedorismo português “evoluiu muito nos últimos quatro anos”. E a Europa está atenta.
Vice-presidente da equipa da e.ventures em Hamburgo, na Alemanha, Jonathan Becker esteve em Portugal a propósito do Lisbon Investment Summit, evento de empreendedorismo promovido pela Beta-i – Associação para a Promoção do Empreendedorismo e Inovação, em parceria com a IE Business School e a sociedade de capital de risco da Caixa Geral de Depósitos, a Caixa Capital.
Ao Observador, diz que começou “a reparar que estavam a sair cada vez mais empresas de Portugal” e que a e.ventures tem visitado o país com regularidade à procura de investimentos. Contudo, adianta, ainda há um caminho a percorrer no que diz respeito à formação e ambições dos empreendedores.
“Pelo que falei com investidores locais, não há pessoas suficientes a formarem-se em tecnologia. Não há talento suficiente. E também percebi que existem empresas muito focadas no mercado local e que não estão a pensar fora da caixa, no sucesso global. Porque, no final de contas, é isso que importa”, afirmou ao Observador.
Com formação em Ciências Computacionais e em Economia, Jonathan Becker já tinha feito parte da equipa da e.ventures em São Francisco, nos Estados Unidos da América, antes de integrar a alemã. Conta ao Observador que as empresas tecnológicas com sucesso na Europa “ainda estão um pouco atrás” das americanas, mas que é possível encontrar histórias de sucesso globais, que lideram a indústria, como a Farfetch ou o Spotify.
A e.ventures investe na empresa liderada por José Neves desde 2012, altura em que participou na segunda ronda de investimento da startup (18 milhões de dólares). Um ano depois, participou na terceira ronda, no valor de 20 milhões de dólares, e dois anos depois na quarta, com um total de 66 milhões de dólares. Em março de 2015, juntamente com Jose Marin, Fabrice Grinda, DST Global, Vitruvian Partners, Condé Nast, Felix Capital, foi um dos investidores que investiu 86 milhões de dólares na Farfetch, avaliando a empresa em mil milhões de dólares.
“É uma empresa fascinante. O que é único na Farfetch é que eles conseguem ter um inventário de artigos que mais ninguém tem”, diz Jonathan Becker.
Quando questionado sobre se acha possível que a empresa liderada por José Neves ultrapasse a rival Net-a-Porter e se torne líder de mercado, o investidor adianta que “existe espaço para diversos players no mercado” e que ambos os sites de comércio eletrónico estão no caminho para o sucesso.
Sobre o receio de a Europa poder estar a viver uma bolha tecnológica — semelhante à que assolou os EUA nos anos 2000 –, o investidor refere que o ambiente que se vive no mercado é “fundamentalmente” diferente. “Temos muitas empresas tecnológicas que foram admitidas em bolsa com sucesso. E é por isso que está a entrar muito dinheiro no setor tecnológico e também é por causa disso que as avaliações sobem“, referiu.
Contudo, apesar de se estar a assistir a uma mudança na mentalidade europeia, Jonathan Becker alerta que ainda existem “muitas pessoas com aversão ao risco na Europa, que não correm atrás dos grandes objetivos“. E avança que é preciso que os governos devem tentar incentivar as pessoas a fazerem programas tecnológicos. “É isso que estamos a tentar encorajar os governos a fazer: a trazer pessoas para a tecnologia”, diz.