O presidente do Montepio escreveu uma carta aos clientes do banco mutualista apontando para os “fortes ataques” que têm sido feitos contra a entidade e negando qualquer semelhança entre o Grupo Montepio e o Grupo Espírito Santo (GES).
“Esta Caixa Económica tem vindo a ser alvo de fortes ataques, questionando-se a sua segurança, solidez e adequação de processos. Esses ataques sobressaltam clientes e a sociedade no seu todo, habituados a reconhecer na marca Montepio Geral uma reputação de confiança construída ao longo de 175 anos”, lê-se na missiva assinada por António Tomás Correia, citada pela agência Lusa.
A carta com data de 29 de maio terá sido enviada aos clientes do banco que são também associados da associação mutualista e surge no contexto de mudanças no modelo de governação do Montepio e do presidente executivo da caixa económica. “Ataques” e “campanha”, foram expressões usadas pelo presidente do banco para qualificar informações negativas divulgadas pelos media e que terão já penalizado o Montepio.
O próprio Tomás Correia já reconheceu publicamente que estas notícias prejudicaram a atração de novos investidores para o aumento de capital da caixa económica, que será subscrito pela associação mutualista. Segundo a TVI, a instituição terá também a perdido depósitos.
O presidente da caixa económica fez questão de dizer aos clientes aquilo que já tinha referido aos jornalistas, afastando qualquer semelhança entre o Montepio e o grupo GES/BES, quer a nível de negócio, quer ao nível do modelo de negócio.
Mudanças não “resultam de aviso do Banco de Portugal”
A caixa económica está em processo de mudança de estatutos, com o objetivo de tornar a gestão do banco mais independente da associação mutualista. Mas Tomás Correia assegura que estas mudanças, que o levarão a abandonar o cargo de presidente executivo do banco, “não resultam de recomendação, preocupação ou aviso do Banco de Portugal”, mas da “adoção das recentes alterações e novos requisitos do Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras”.
A nomeação de José Morgado para novo presidente executivo aguarda pela aprovação dos estatutos na assembleia geral da associação mutualista, convocada para o final do mês. Tomás Correia pretende manter-se na presidência do grupo, mas ainda terá de passar pelas eleições da associação mutualista previstas para o final do ano.
Sobre o caso BES/GES, “muito tem sido dito, desde comparações com um grupo que atravessou dificuldades profundas até suspeições quanto ao modelo de gestão, passando pelo quadro de supervisão ou por uma auditoria especial que, ao longo de meses, foi propalada pelos ‘media’ como forense, colocando-nos sob um manto de dúvida e desconfiança que só agora (conhecidas as conclusões do Banco de Portugal) podemos afastar“, reforçou o gestor. Foi Carlos Costa que pela primeira vez, no Parlamento, se referiu à realização de uma auditoria forense ao BES, diligência que estaria a ser desenvolvida em outras instituições, embora os casos em averiguação fossem menos graves.
Segundo Tomás Correia, “entre todas as entidades que operam no setor financeiro, a CEMG (Caixa Económica Montepio Geral) é das que mais se diferenciam do grupo GES/BES em termos de natureza jurídica, características institucionais, finalidades, perfil de atividade, dimensão ou ‘modus operandi'”.
O gestor reafirma que os resultados desta auditoria, comunicados no final de abril ao Montepio, não implicam “quaisquer consequências patrimoniais para a instituição”, tendo resultado em recomendações e na introdução de melhorias processuais e organizativas. E realça a “ausência de razão e fundamento nas acusações dirigidas a esta instituição e ao grupo mutualista a que pertence exigem a mensagem que lhes dirigimos”.
Sublinhando que o Montepio atravessou a crise económica e financeira “sem necessidade de qualquer apoio ou intervenção públicos”, conclui que a caixa económica “alinha a sua atuação, como sempre fez, pela gestão prudente, pela transparência, solidez e seriedade, garantindo a estabilidade dos recursos, a segurança dos seus clientes e as condições necessárias à condução ponderada e tranquila de uma instituição quase bicentenária”.