Podia ter sido estrela de basquetebol. Deve chegar aos dois metros com a altura das botas, só lhe faltam dois centímetros. Começou a tocar piano com apenas seis anos e aos 15 já tinha completado todos os níveis de aprendizagem. Na escola era uma espécie de Linus (Peanuts) sempre agarrado ao piano onde improvisava composições entre o jazz e os clássicos da música erudita. Era um colégio muito seletivo onde havia o ritual de destacar os alunos mais talentosos, atribuindo-lhes gravatas especiais. James Blake já era um talentoso pianista mas sempre recusou tocar na orquestra ou juntar-se ao coro e por isso nunca chegou a usar a gravata distintiva. O miúdo mais alto da turma sempre quis manter-se à margem. Do protagonismo e do rebanho.
Quando começou a gravar músicas no seu quarto queria fazer sons nunca antes ouvidos. Licenciou-se em Música Popular na Universidade de Londres. Começou a sua carreira como DJ em clubes de dubstep e em 2009 lançou a primeira canção no Reino Unido. Bem recebido pela crítica e pela rádio, afirmou-se como produtor de música eletrónica, compositor e cantor. Usa o alter-ego Harmonimix para assinar remisturas quase irreconhecíveis como a que fez para “Drunk In Love” de Beyoncé. Aceita a pirataria digital como algo irreversível e impossível de combater.
Pouco dado a euforias, a figura circunspecta e a falta de star quality quase parecem trabalhadas com o intuito de canalizar todas as atenções para a música. Consegue cantar num falsete trémulo e doce como gelatina que muitos comparam ao de Antony Hegarty. No seu catálogo é escusado procurar uma grande guitarrada ou um refrão repetido vezes sem conta ao longo de cinco minutos. Blake pratica uma eletrónica intimista com os seus sintetizadores de composições personalizadas, por vezes tingidas de trip-hop.
Especialista em estados de espírito e criação de atmosferas, atua na sexta-feira 10 de julho no Passeio Marítimo de Algés. James Blake virá acompanhado por dois músicos de suporte: Ben Assiter (bateria) e e Rob McAndrews (Guitarra/Sampler). Blake recebeu a primeira nomeação para o Grammy de Melhor Artista Revelação em 2014. O primeiro single do álbum “Overgrown” ganhou o prémio Ivor Novello para Melhor Canção Contemporânea. É este “Retrograde”:
Com apenas 26 anos James Blake consegue misturar, nas doses certas, a clássica sensibilidade confessional de cantor/compositor com a vanguarda sonora da eletrónica. Em dezembro de 2014 publicou no Instagram uma foto com o BMW que a marca lhe emprestou. Na mesma altura foi anunciado o terceiro álbum de originais com o título “Radio Silence” cujo lançamento deverá acontecer em breve. Diz-se que tem colaborações de Kanye West e de Justin Vernon.
O álbum de estreia, o homónimo “James Blake”, foi lançado no Reino Unido em 2011. Aparentemente não era o que os fãs esperavam depois da afirmação nos clubes de dubstep e do êxito dos três EPs que o antecederam. O segundo registo de estúdio “Overgrown” foi editado em 2013. É uma viagem através de uma mente perturbada sobre batidas de dub-pesado deslocadas, fora de tempo. Com participações de Brian Eno e RZA, valeu-lhe a atribuição do cobiçado Mercury Prize.
Cresceu em Enfield, na zona norte de Londres, filho único do casal Blake Litherland. A mãe trabalha em design gráfico e o pai é um músico que chegou a tocar com Leo Sayer, no início da década de 1970. Referências que Blake evita em abono da discrição. Em casa dos pais ouvia-se muita música de Stevie Wonder. Hoje admite a influência de Thom Yorke dos Radiohead e de Bon Iver, com quem já colaborou no tema “Fall Creek Boys Choir” gravado em 2011.
James Blake funde a vibração poderosa do baixo característico do dubstep com a carga emocional dos poemas. As canções de registo íntimo e pessoal transformam-se no palco de forma surpreendente, traduzidas em performances envolventes e arrebatadoras. Não para todos, é certo. No ano passado em Paredes de Coura o compositor londrino atuou com os seus teclados, na última noite, no palco principal. Uma escolha pouco consensual na opinião de alguns.
Desta vez será o palco Heineken a receber o desfile dos principais êxitos da carreira de James Blake, muitos deles produzidos entre a edição dos álbuns. Da exploração de “Overgrown” à estreia de temas novos, vamos poder vê-lo debruçado sobre os teclados, acompanhado por um baterista e por um guitarrista. Será na sexta-feira, 10 de julho, segunda noite do NOS Alive. Esperam-se longos momentos de introspeção e catarse devidamente acompanhados pela eletrónica minimalista de James Blake.
jamesblakemusic.com / NOS Alive