Em dez anos o INEM perdeu mais de 100 técnicos de ambulâncias, especializados e formados em cursos que custaram milhares de euros. De acordo com uma estimativa do Sindicato dos Técnicos de Ambulância de Emergência (STAE), citada pelo jornal Público deste domingo, a maior parte destes profissionais deixou as ambulâncias para assumir outras funções ligadas ao setor da saúde, mas alguns, cerca de um terço, optaram por sair do país em busca de melhores condições e salários mais altos.

Segundo as estimativas do STAE, faltam “cerca de 300 técnicos para assegurar todas as necessidades”, com a acumulação de turnos e a saída das pessoas. Segundo um dirigente sindical citado pelo Público, Pedro Moreira, o setor não pode continuar a assistir à “vaga de emigração” sem fazer nada, e pede que se tomem medidas. Os números são do sindicato, mas o próprio INEM não negou o “fenómeno de emigração” que, em todo o caso, diz que é transversal à sociedade portuguesa.

O salário base de um técnico de ambulâncias é de 692,71 euros, um valor tabelado por lei, e é ai que o INEM diz residir o problema. “O INEM não tem forma de ultrapassar as decisões políticas e tem de cumprir a lei”, diz ao Público o presidente do INEM, Paulo Campos, acrescentando que houve desde maio de 2011, altura em que foi assinado o memorando da troika, um corte muito significativa não só nos salários-base como principalmente na remuneração sobre as horas extra: se antes se podia fazer 120 euros num turno extra, agora esse número baixa para 25, diz o mesmo jornal.

A emigração é em muitos casos o principal escape, porque a diferença salarial é grande: um dos técnicos ouvidos pelo Público, por exemplo, ganhava cerca de 700 euros no INEM, em Portugal, e está atualmente a ganhar cerca de 2700 euros como paramédico no Reino Unido. Outra dos fatores de desgaste é o facto de, em Portugal os técnicos de ambulância, apesar de terem formação do INEM, não estarem autorizados a praticar atos médicos, o que aumenta ao sentimento de frustração.

O Governo quer agora regulamentar a carreira de técnico de emergência e propõe que estes profissionais possam praticar atos médicos delegados, ou seja, com supervisão à distância. Isso inclui a possibilidade de administrar fármacos e serve apenas para as situações e que “o utente se encontre em risco iminente de vida ou de perda de um membro”. Para isso, a proposta do Governo diz ainda que os técnicos têm de fazer uma formação extra de seis meses.

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