A central nuclear espanhola de Almaraz, a mais próxima da fronteira portuguesa, “chumbou” num teste de resistência pedido pela Greenpeace, evidenciando a falta do mesmo tipo de válvulas que permitiu o acidente em Fukushima, Japão.

“Em Espanha – tal como noutros pontos da Europa – não aprendemos a lição de Fukushima [o acidente na central nuclear japonesa em março de 2011]. As medidas que foram tornadas obrigatórias, de maneira urgente, por causa do que se passou com Fukushima, mas não foram ainda tomadas”, disse hoje à agência Lusa a responsável da área de Energia Nuclear da Greenpeace, Raquel Montón.

A organização ambientalista considera que a central de Almaraz (na bacia do Tejo, a pouco mais de 100 quilómetros da Fronteira de Portugal) “não tem válvulas de segurança para impedir uma explosão de hidrogénio, tal como não tinha Fukushima, e a sua instalação não está prevista até finais de 2016”.

“Outro dos grandes problemas que ocorreu no Japão é que não tinham sistemas de ventilação com filtragem. Quando se viram na contingência de ter de libertar a quantidade de hidrogénio que se estava a acumular e com ele a radioatividade, não havia sistemas de ventilação filtrada. Assim, tudo foi levado ao limite e quando explodiu, espalhou-se a radioatividade”, explicou Raquel Montón.

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Após o incidente japonês, as autoridades e os reguladores europeus recomendaram que as centrais pusessem estes sistemas de forma urgente.

“Em Espanha não foram postos e não se está a exigir isso até ao ano 2016 ou mais tarde. Enquanto isso as centrais continuam a funcionar, incluindo a de Almaraz, que não tem sistemas de ventilação filtrada”, salientou.

Por outro lado, além de Almaraz “não dispor de medidas eficazes de gestão de acidentes para assegurar a contenção da radiatividade durante um acidente grave”, não existe uma avaliação atualizada dos riscos naturais, como por exemplo a atividade sísmica.

“A União Europeia exigiu a Espanha que fizesse uma nova caracterização sísmica, porque a que temos é muito antiga. Com base nessa nova caracterização é que seriam avaliados os riscos das centrais nucleares espanholas. Isso foi no ano de 2011 e só este ano é que se deu seguimento a essa ordem: ou seja, a nova caracterização sísmica vai começar a fazer-se em finais deste ano e não saberemos quando vai acabar”, adiantou a responsável da Greenpeace.

Para Raquel Montén, a ideia de que as centrais nucleares em Espanha são seguras quanto a possíveis terramotos não é correta, uma vez que “nem sequer se começou a estudar” o caso.

“Esta é uma das grandes deficiências”, afirmou a responsável, acrescentando que a entidade tem vindo a pedir esclarecimentos à tutela espanhola (o ministério da Indústria, Energia e Turismo) desde há quatro anos.

“Até agora só temos tido falta de transparência e a falta de resposta”, disse Raquel Montón, salientando que a escolha da Central nuclear de Almaraz para ser submetida aos testes não foi casual.

“Em Espanha fez-se a análise da central de Almaraz, precisamente por porque é a que está mais próxima da fronteira com Portugal – outro país membro da União – e porque é a central nuclear em operação mais velha de Espanha”, concluiu.

As conclusões da Greenpeace constam de um relatório que a organização está a apresentar na Conferência bianual do Grupo de Reguladores Europeus de Segurança Nuclear (ENSREG), que decorre até terça-feira em Bruxelas.

A Agência Lusa pediu um comentário ao Ministério da Indústria, Energia e Turismo de Espanha, mas até ao momento ainda não obteve resposta.