A produção de eletricidade através de centrais térmicas (gás natural e carvão) disparou 86% no primeiro semestre deste ano, enquanto no mesmo período a energia produzida pelas grandes barragens recuou 43,6%. Estes dados refletem a resposta do sistema elétrico aos crescentes efeitos da seca que estão a penalizar a produção renovável, sobretudo de origem hídrica.

Os dados da REN (Redes Energéticas Nacionais) para o mês de junho mostram que a produção das centrais térmicas, que usam combustíveis fósseis, ultrapassou a energia renovável, considerando aqui as grandes barragens e a produção em regime especial renovável, onde está a eólica. A eletricidade do vento também está em queda, mas a um menor ritmo que a hídrica, tendo recuado 9,4% nos primeiros seis meses de 2015.

Analisando os dados acumulados dos primeiros seis meses do ano, a produção de origem renovável ainda ultrapassa a geração térmica, mas perde quota no consumo em relação ao primeiro semestre do ano passado.

O crescimento da energia térmica é mais visível nas centrais a gás natural que nos últimos anos tinham estado praticamente paradas, dado o forte contributo da energia hídrica e eólica, que têm prioridade para entrar na rede. A energia produzida pelas centrais a gás de Lares e Ribatejo (EDP), Pego e Tapada do Outeiro cresceu mais de 200% nos primeiros seis meses do ano, embora a comparação seja feita com um ponto de partida muito baixo. Dados até maio, apontam para uma utilização de 7% da capacidade destas centrais, que terá sido reforçada em junho. E a utilização vai continuar a crescer nos meses do verão, à medida que os meses sem chuva se sucedem. Nos últimos dois anos, a capacidade usada das centrais a gás natural rondou apenas 4%.

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O excesso de capacidade instalada na produção de eletricidade foi uma marca dos últimos anos no setor da energia, que ainda ficou mais evidente depois das quedas de consumo associadas à crise económica. Mesmo agora, com a retoma em marcha, a procura de eletricidade estagnou nos primeiros seis meses deste ano, depois de corrigidos os efeitos do tempo e dos dias úteis.

Mas para muitos especialistas, esta capacidade excedentária é fundamental para a segurança do abastecimento num sistema elétrico onde a produção renovável assume um peso tão expressivo. E essa capacidade tem de estar concentrada nas centrais a gás natural, que podem ser ativadas rapidamente em caso de necessidade.

Mau para o ambiente, bom para os preços

Se esta evolução não é positiva a nível do ambiente, as centrais térmicas são as principais produtoras de emissões de CO2, pode trazer algum alívio à fatura energética, na medida em que a desvalorização das cotações do petróleo já chegou ao preço do gás natural. Até agora, os consumidores de eletricidade tiraram um benefício quase nulo desta evolução favorável do petróleo, porque as centrais a gás estiveram praticamente sem produzir.

Segundo a REN, as “centrais térmicas em regime ordinário (de mercado), a compensarem a redução das renováveis, duplicaram a produção nos primeiros cinco meses do do ano, abastecendo 30% do consumo”. No relatório dos primeiros cinco meses do ano (o semestral ainda não está disponível), a REN justifica esta evolução pelo regime hidrológico seco. Até maio, as fontes de energia renovável abasteceram ainda mais de metade do consumo, 54%, mas este nível estava muito abaixo dos 76% de quota verde registada em igual período do ano passado.

O aumento de produção é menos expressivo nas centrais a carvão, Sines e Pego, crescimentos entre 46% e 109% mas estas unidades têm um peso muito maior no mix energético português. A central de Sines da EDP é a maior unidade de produção de eletricidade portuguesa, mas também a principal emissora de CO2.